21/06/2024
Redação: Agência Minas
Imagem: Paulo Lacerda
O Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, reconhecido como uma das obras-primas do barroco e Patrimônio Cultural da Humanidade, será cenário da pré-estreia da ópera “Devoção”, no dia 13/7, às 17h30, em Congonhas, na região Central de Minas.
Encomendada pela Fundação Clóvis Salgado (FCS), a produção, que abre a temporada de óperas da casa, terá dois atos e estreará no dia 19/7, com récitas também nos dias 20, 22 e 23/7, às 20h, no Grande Teatro Cemig Palácio das Artes.
A música é composta por João Guilherme Ripper, o libreto é assinado por André Cardoso, a direção musical é de Ligia Amadio e a concepção e direção cênicas ficam a cargo de Ronaldo Zero.
Participam da montagem a Orquestra Sinfônica e o Coral Lírico de Minas Gerais, a Cia de Dança Palácio das Artes e o Coral Cidade dos Profetas.
Ao todo, mais de 500 pessoas estão envolvidas nesse espetáculo, cujo argumento foi proposto pelo secretário de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais, Leônidas de Oliveira, e pelo presidente da Fundação Clóvis Salgado, Sérgio Rodrigo Reis.
O processo de concepção e pesquisa para o libreto envolveu membros da Academia Congonhense de Letras e Artes, bem como o trabalho do escritor Domingos Teodoro Costa, autor de “Congonhas: Da Fé de Feliciano à Genialidade de Aleijadinho”.
A ópera revisita a trajetória do imigrante português Feliciano Mendes, no século 18, para abordar temas importantes como a fé, a devoção, a promessa e o milagre que se encontram na base da formação do povo mineiro e brasileiro.
Sérgio Rodrigo Reis explica que ideia de promover a pré-estreia em Congonhas se dá justamente por ali ter se tornado o epicentro da devoção ao Bom Jesus de Matosinhos.
“Congonhas é onde essa manifestação encontrou seu apogeu, quando Feliciano Mendes sai do norte de Portugal e, antes de embarcar, vai ao santuário da cidade de Matosinhos, dedicado ao Bom Jesus, e pede a proteção. E ele vem com essa fé em busca do desconhecido”, conta o presidente da FCS.
“Quando chega aqui em terras mineiras, onde hoje é a cidade de Congonhas, descobre ouro, fica muito rico, mas também adquire uma enfermidade, uma espécie de tuberculose, e fica muito doente. Sem esperança de cura na medicina tradicional, ele faz um voto, uma promessa ao santo de devoção, ao Bom Jesus da cidade de Matosinhos, que se ele se curasse, dedicaria o resto da vida a formar essa devoção aqui também em terras mineiras”, detalha.
Acervo Secult
A diretora geral do espetáculo, Cláudia Malta, observa que essa narrativa evidencia aspectos essenciais, relacionados à própria mineiridade.
“Nesse trabalho, nos deparamos com elementos que estão na formação do povo mineiro, o que se relaciona também à própria cultura do povo brasileiro, a partir do sincretismo, dessa síntese cultural tão presente em Minas Gerais. A cultura do nosso estado representa a síntese do Brasil, e tudo isso está presente na ópera como uma grande homenagem ao povo mineiro e às origens do nosso país”, ressalta.
Durante o processo de construção da ópera, que está em produção há cerca de um ano, foram feitas visitas a Congonhas, onde, há mais de 240 anos, acontece o Jubileu. Essa é uma das principais devoções dentre as 30 dedicadas ao Bom Jesus de Matosinhos em Minas Gerais.
“Fomos conhecer o Jubileu e, naquele momento, nós tínhamos uma primeira ideia que acabou se transformando. Nós vimos a oportunidade de trazer esse personagem, o Feliciano Mendes, para o trabalho. Lá, eu pude conhecer a história dele mais a fundo, vivenciando ali em loco, com as pessoas, e fiquei encantando com toda a história de transformação dele, a cura e o que ele mobilizou em agradecimento pelo milagre alcançado”, conta o diretor cênico Ronaldo Zero.
“É muito interessante perceber como a história dele reverberou na cidade, que acabou virando não só um polo religioso, mas cultural com as obras de artistas representativos do barroco, como Aleijadinho”, completa o diretor cênico.
Cenário
Para construir o cenário de “Devoção”, Ronaldo Zero relata que buscou referências na ópera barroca, na qual a fábula dá o tom da narrativa.
“Propomos contar essa história não a partir de um olhar documental. Portanto, ela será encenada como uma fábula. Nós voltamos para o século 18, para o período da ópera barroca, quando os espetáculos eram encenados a partir de painéis pintados e com estruturas que subiam e desciam diante da plateia. Nós estamos trazendo esse universo do teatro encenado para esse trabalho”, detalha o diretor cênico.
Figurino
As roupas também se baseiam no século 18. Parte do acervo da Fundação Clóvis Salgado foi revisitado, mas outras peças novas também foram desenvolvidas.
“Esse aspecto da fábula também se reflete nos figurinos, na luz, na coreografia. Em tudo isso há uma identidade real, mas com uma leve saturação da fantasia”, pontua Zero.
Grande espetáculo
Na pré-estreia, que será realizada no Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, haverá a participação do Coral Cidade dos Profetas, que participa das principais comemorações nas igrejas de Congonhas. O grupo com 40 vozes irá se unir ao Coral Lírico de Minas Gerais, atualmente com cerca de 70 integrantes.
“Além disso, nós teremos mais de 70 músicos da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, 17 bailarinos, os próprios solistas, vários figurantes e algumas surpresas nesta ópera, que é uma grande homenagem ao povo mineiro, ao povo brasileiro, à nossa cultura e à importância dela na formação cultural brasileira”, conclui a diretora geral, Cláudia Malta.