Eu estava sentado em um ponto de ônibus, naquela espera que parece não ter fim. Ao meu lado, uma senhora cheia de sacolas também já estava ali há mais de meia hora. Como ainda era muito cedo, várias pessoas chegavam e iam, mas nós permanecíamos.
Puxei conversa com ela, comentando que já estava perdendo a esperança de o ônibus chegar. Ela, toda educada, respondeu que esses ônibus demoram mesmo, porque são para outra cidade. E dali o papo rendeu.
Ela contou que é diarista e vai quase todos os dias para a casa de duas clientes. Tem 70 e poucos anos e sempre trabalhou assim. Formou dois filhos na faculdade, falou com muito orgulho. Estudar ela mesma não pôde, porque ajudava a mãe a cuidar dos irmãos.
Perguntei como foi estar na formatura dos filhos. Ela riu e brincou, dizendo que quase não estaria lá, porque sentiu um aperto tão grande no coração, de tanta alegria, que achou que ia desmaiar. A filha pegou o diploma, encontrou a mãe no auditório, beijou o diploma e fez um coração com as mãos, direcionando-o a ela. E aí ela riu de novo: “Tá vendo? Já completei a escola duas vezes”.
Do palco, como professor, eu já vi a alegria de muitos pais nos dias de formatura. Se as luzes do auditório se apagassem, os olhos iluminariam o ambiente, com toda certeza. Que delícia é viver esse momento.