Se há uma arte muito próxima, mas próxima mesmo da arquitetura, é o cinema. A habilidade de representar espaços em movimento ao longo do tempo aproxima o cinema da arquitetura de um modo que foge aos limites da pintura, da escultura, da música e também da dança.
A questão do espaço é central, tanto no cinema quanto na arquitetura, e, embora lidem com esse espaço de maneiras diferentes, aproximam-se ao proporcionar uma experiência corporal e não só visual do ambiente construído. O fato de o cinema ter surgido contemporaneamente à arquitetura moderna, talvez lhe tenha atribuído o papel de instrumento de crítica.
Muitas produções cinematográficas acabaram se tornando, mesmo que não fosse essa a intenção, exemplos memoráveis de crítica da arquitetura e da sociedade moderna. E eu vou dar um exemplo, um filme delicioso de 1958, “Meu Tio”, do diretor Jacques Tati. Em visita à família da sua irmã, o Monsieur Hulot é recebido em uma casa absolutamente de ponta, preparada para as necessidades da vida moderna.
Espaços racionais, automatização e uma variedade de utensílios e dispositivos tecnológicos fazem parte desse novo contexto. Deslocada, a irônica figura de Hulot tenta, em vão, se adequar à nova realidade que promete facilidade e conforto, mas que lhe apresenta apenas obstáculos e resistência. Pois é, o exemplo é antigo, mas essa realidade continua valendo, né?
Quantas vezes nós nos sentimos incomodados em um ambiente de ponto que, na cabeça de alguém, foi projetado para gerar felicidade de quem o utiliza, mas a gente sabe que não é bem assim, que a tal felicidade é revelada, né? Verdade ou mentira?
