Profissionais que lidam com bebidas (eu me incluo nesse hall) costumam se deparar com muitas noções equivocadas que, de tantas vezes repetidas, passam a ser verdade para o consumidor leigo. Um exemplo clássico é dizer que não se pode misturar vinho com cerveja: ou se bebe um, ou se bebe a outra, nunca as duas bebidas ao mesmo mesmo tempo.
Uma bobagem sem fundamento nenhum, pois estamos tratando de dois fermentados que podem sim ser alternados em sequência sem nenhum problema. Mas esse é apenas um dos muitos mitos que precisamos esclarecer sempre.
Quer mais alguns? “Vinho tinto é mais forte que branco”, “para um casamento perfeito, opte por vinhos tintos ao acompanhar carnes vermelhas”, “os queijos pedem sempre vinho”, “cerveja engorda, vinho não”, e por aí vai.
Eu perguntei ao Nelton Fagundes, sommelier consultor da LiberWines, que esta semana é o nosso convidado aqui do Líquido & Certo, sobre essa questão da potência dos vinhos. E obviamente, ele explica que a coloração do vinho não está ligada à sua potência, é o mesmo que acontece com a cerveja, cor não determina que a bebida seja forte ou fraca.
“Na verdade, já tem branco poderosos e brancos leves, tintos poderosos e tintos leves. Isso depende da na produção. No caso dos brancos, por exemplo, sauvignon blanc, pinot grigio, chardonnay sem madeira, são vinhos mais frescos, mais imediatos, para tomar no verão.
Mas um vinho laranja, um chardonnay com madeira, um grande branco, mais pesado, tem que ter um prato harmonizar, porque é mais pesado.
O tinto da mesma forma, eu tenho pinot noir, tenho um bojolet, um gamay, que são bem leves. Temos um tannat, tem um petit verdot, de fruteiras com uvas bem poderosas.
Depende muito do que você utiliza, de qual de qual variedade você utiliza para ter para ver se o vinho é pesado ou não. Porque o álcool vai ser mais ou menos a mesma coisa, vai variar de 11,5% até 14%.
E o álcool não é tão importante, no caso do vinho, perdão, ele é importante, mas é muito mais maciez do que em potência.”
A noção de potência do vinho, como explica Nelton Fagundes, é diretamente ligada à sensação de cor, que por sua vez, é ditada pela maior ou menor presença de açúcar residual, quesito diretamente ligado ao teor alcoólico.
Para entender o que é corpo do vinho, preste atenção à sensação de peso, de preenchimento que a bebida provoca na boca, é como comparar azeite e água. Pense na sensação que elas produzem na língua, no céu da boca, ao engolir.
A partir disso, faça uma escala de peso e transfira esses valores para o vinho. É uma forma fácil de entender sensoriamente o que é um vinho encorpado e o que é vinho leve, ligeiro na boca.