Estou acompanhando pelo Threads uma discussão interessantíssima que coloca conhecimento sensorial de uma bebida versus regras de etiqueta. No caso, um influencer ensina que, ao pedir uma garrafa de vinho em um restaurante e receber a rolha do sommelier ou maitre que fizeram o serviço, não devemos nunca cheirar essa rolha, pois o ato representa uma gafe sem tamanho.
Começa por aí a discussão. Pois nos comentários várias pessoas criticam a regra ensinada, já que o ato de cheirar a rolha é extremamente necessário para se identificar problemas que comprometam a qualidade do vinho.
O influencer então responde que para um consumidor comum, que não estuda bebida, cheirar a rolha não acrescenta nada, e continua sendo uma falta de etiqueta.
O argumento é criticado por vários seguidores que se sentem ofendidos em sua curiosidade de conhecer melhor as características de um vinho, mesmo que não sejam eles estudiosos.
Bom, eu como consumidora e também como profissional, justamente da área de degustação de bebidas, digo que regras de etiqueta não podem e nem devem balizar ações técnico-sensoriais.
Dito isto, lembro que saber e sabor são palavras que se originam do mesmo verbo em latim, sapere, que significa “sentir gosto” e “compreender”, ou seja, compreendemos aquilo que degustamos e degustar passa por sentir os cheiros e os gostos dos alimentos líquidos ou sólidos.
Então, se ao cheirar a rolha é possível identificar a presença de um fungo na cortiça que acaba contaminando a bebida em contato com o material, por que seria falta de educação fazer isso? Saber, conhecer, compreender nunca são demais.
Então, da próxima vez que você receber a rolha do vinho num bar ou restaurante, cheira sim, e perceba se ali há um odor desagradável de mofo.
Esse é o descritor de aroma do fungo tricloroanisol, também chamado em francês de bouchonné, que significa presente na rolha. Se identificar o problema, peça que troquem a garrafa do vinho, porque ninguém é obrigado a tomar uma bebida com contaminações.