Belo Horizonte é uma cidade de história e cultura infindável. Em cada esquina, existe a memória de pessoas que se foram, pessoas que construíram e de quem segue mantendo a cidade viva. O casal de jornalistas Rafael Sette e Luísa Dalcin, do perfil de Instagram “Onde Comer e Beber”, contam os causos de BH há quatro anos de um jeito diferente: por meio de caminhadas temáticas.
O projeto “BH a Pé – Caminhadas temáticas em BH” nasceu em dezembro de 2020, no aniversário de BH. De lá para cá, Sette e Dalcin já caminharam com inúmeros moradores e turistas pelas ruas de Belo Horizonte, contando a história da cidade sob a ótica de escritores, da minissérie Hilda Furacão, das assombrações, do futebol, entre outros temas.
A primeira de todas foi a caminhada literária, que agora é chamada de “Páginas Viradas: a BH de Drummond, Sabino e Nava”. O casal segue promovendo essa temática, que está com vagas abertas para passeios a partir do dia 6 de abril. Nela, o público é convidado a conhecer a capital a partir do olhar dos escritores.
Sobre a caminhada Páginas Viradas
“Ela é um passeio pela BH desde a fundação, de Curral del-Rei, mas depois de contar uma breve história da cidade, a gente foca na Belo Horizonte dos anos 1920, época em que moraram aqui Carlos Drummond de Andrade, Fernando Sabino criança, Henriqueta Lisboa, muitos outros escritores”, explica Rafael à Rádio CDL FM.
O interesse por fazer uma caminhada focada em escritores partiu de Rafael, que tem um forte interesse em literatura. “Eu sou escritor, tenho um livro publicado com uma história que se passa em Belo Horizonte, tenho crônicas e contos publicados em coletâneas, todas com histórias que se passam em BH, e sempre me interessei muito por estudar a história da capital, por ler livros que se passam aqui”.
Enquanto ocorre o passeio, Sette e Dalcin abordam a literatura produzida em Belo Horizonte na primeira metade do século XX. “A gente começa ali na Igreja da Boa Viagem, sobe até a Praça da Liberdade, depois desce até a rua Sapucaí, e a cada parada eu leio um trecho de um livro que fala de BH”.
Além disso, o jornalista mostra fotos antigas dos lugares citados por Carlos Drummond, Pedro Nava e Fernando Sabino, a fim de comparar o antes e o depois da cidade.

Escritores constroem olhar sobre BH
Segundo Rafael Sette, a caminhada Páginas Viradas faz um grande apanhado de todos os escritores, e cada um deles possui uma visão sobre Belo Horizonte. “Quando a gente fala, por exemplo, de Carlos Drummond de Andrade, ele vai focar em poesia, vai falar da Praça da Liberdade, da Praça da Estação, da visita dos reis da Bélgica”.
“O Pedro Nava vem dentro de uma perspectiva memorialista, relembrando. Ele escreve já aos 70 anos sobre a Belo Horizone da juventude dele, relembrando como era, é um cara muito poético também, apesar de escrever em prosa, escreve coisas lindas, e vai lamentar muito essa BH que não existe mais”.
O apanhado histórico sobre a fundação de Belo Horizonte é feito justamente para contextualizar o impacto que essa construção teve na vida dos escritores. “Porque eles estavam aqui na juventude da capital, então eles viram toda essa transformação ou conviveram com quem a viu”, disse o jornalista.

“Então, o nosso objetivo com a caminhada é ter essa visão de uma cidade nova, em construção, com uma população pequena para ruas tão largas e tão retas, igrejas tão grandes. E como que isso impacta? E como que, por causa disso, a gente vai ter uma produção literária absolutamente fantástica a partir dos anos 1920?”, questiona Sette.
Essa reflexão é feita no final do passeio, quando Rafael e Luísa falam sobre a produção literária dos autores durante a velhice. “E aí o passeio muda um pouco de tom e começa a falar de nostalgia, envelhecimento, passagem do tempo”.
“É uma reflexão sobre como uma cidade envelhece. A gente pega desde o nascimento, quando nem Belo Horizonte chamava, chamava Curral del-Rei, até o momento em que ela está envelhecida aos olhos do Drummond e do Nave”, acrescenta o jornalista.
Como participar das caminhadas
Para participar desse e de outros passeios, basta comprar os ingressos por meio da Sympla. A caminhada Páginas Viradas custa R$ 79, mais R$ 7,90 de taxa. A atividade inclui uma pausa para alimentação na Pão de Queijaria e uma pausa na mureta da rua Sapucaí. Os grupos incluem até 15 pessoas.
Neste sábado (15), o projeto fará, pela primeira vez, o evento Café com Causo, no Copa Cozinha. O encontro fará um debate sobre os temas dos passeios, de forma ampliada e sem passeio. Nessa edição, o jornalista Ivan Drummond fará uma participação para contar a história da real Hilda Furacão, a quem ele encontrou em um asilo em Buenos Aires (ingressos aqui).
Um outro passeio que é novidade do BH a Pé é o BH de Juscelinom que faz um apanhado histórico e literário sobre a Belo Horizonte de 1940. A caminhada conta como o político fez a primeira grande onda de reformas e mudanças na capital mineira, enquanto prefeito e governador. Os ingressos custam R$ 99 + R$ 9,90 de taxa.