Há alguns anos, num albergue que acolhe pessoas em situação de rua em Belo Horizonte, dois dias antes do Ano Novo, eu perguntei a um idoso se ele tinha jogado na Mega da Virada. Um pouco desconexo da realidade, ele respondeu que joga toda semana. Eu insisti dizendo que aquela que eu estava perguntando era a Mega da Virada.
Ele olhou para mim com calma e disse: “Eu sei, meu filho. Eu ouvi. Mega Virada para mim é ter coragem de pedir perdão para os meus filhos”. E começou a falar do passado, dos erros, das ausências, das escolhas que custaram caro. A conversa seguiu por quase 20 minutos, entre memórias e silencios.
Ele saiu um pouco, depois voltou, sentou-se do meu lado e disse quase sorrindo: “Ó, se eu ganhar na Mega Sena da Virada, Eu vou comprar um albergue inteirinho só para mim”.
A virada que ele esperava não cabia num bilhete premiado. Ela morava no desejo de reconciliação, no pedido de perdão e na esperança de ainda poder cuidar de alguém.
