Fui chamado para dar uma palestra a pessoas que cumprem pena na APAC (Associação de Proteção e Assistência aos Condenados). Eram 150 homens que, naquele dia, participavam de uma jornada.
Entre as falas de juízes, promotores, religiosos e voluntários da cidade, fui convidado para falar sobre o mundo em que vivemos: o lado bruto, em que a violência, a arrogância, o desejo desmedido pelo poder e os nossos vazios internos predominam. Finalizo com exemplos de pessoas anônimas que, a seu modo, fazem a roda girar e as coisas boas e necessárias acontecerem.
Logo depois de mim, um jovem que esteve preso desde os 18 anos e está em liberdade há seis, além de estar longe das drogas há muito mais tempo, compartilhou sua história. Sem estudo, sem diploma, sem slides ou estatísticas, aquele jovem fez cada um de nós chorar e refletir com a verdade do seu relato de vida.
Não quero dizer que um olhar técnico não seja válido. Mas eu falo das histórias que ouço e vejo, enquanto aquele jovem as viveu e, com tanta lucidez, nos conduziu a revivê-las com ele. E duas coisas que ficaram ainda mais certas para mim: como a presença de uma família de base e como uma infância saudável são tão importantes.