O sommelier consultor da LiberWines, Nelton Fagundes, vai estar conosco durante toda esta semana. Hoje, ele explica que nós, brasileiros, temos um paladar infantilizado, treinado para apreciar coisas doces, diferente de franceses, alemães, italianos e europeus em geral.
Nossa confeitaria tem herança portuguesa, que também utiliza muito açúcar, além de não podermos nos esquecer do ciclo da cana brasileiro. Nosso uso e consumo de açúcar são moldados pela abundância do ingrediente. Com isso, é comum que o brasileiro tenha um paladar viciado no sabor doce. Daí a preferência por vinhos mais adocicados e a rejeição aos secos, que em sua maioria, tem melhor qualidade.
Assim, quando o consumidor procura os conselhos de Nelton Fagundes sobre qual vinho comprar, ele faz uma leitura das preferências do paladar daquela pessoa e indica uvas que tragam não propriamente doçura, mas uma sensação de conforto para a boca, de maciez no palato, introduzindo aos poucos o perfil mais seco que amplia as percepções dos tantos atributos que a bebida pode oferecer.
“Eu vou contar para pessoas: olha, eu tenho um vinho aqui, um vinho mais macio, não vai ser doce, mas vai ser mais macio. Quando vou fazer vinhos, por exemplo, na Itália, a acidez vai ser mais aguçada por causa do clima. Se eu estou em um país tropical, eu tenho mais açúcar na na uva. Para ser mais simplista. Então, vou ter menos açúcar na Itália, na França ou em Portugal e mais açúcar aqui no Cone Sul, como na Argentina e no Brasil. Então vou ter mais álcool e mais elementos de maciez. (…) A partir daí, vou fazer essa leitura do cliente, eu indico um vinho com o estilo mais macio que vai dentro o paladar dela. A jogada é mais ou menos essa”, disse Nelton
“Se for um tinto, por exemplo, eu indico pouco dos europeus nesse primeiro momento, talvez um malbec argentino, ou carménère, que são os vinhos mais macios, dependendo do estilo. Nesse caso, eu consigo atender esse cliente para ele começar com esse ‘namoro’. Depois, subindo, naturalmente ele vai perceber que tem outros caminhos para seguir”, completou
Falando em restrições que o consumidor possa ter, Nelton explica que os vinhos brancos de uvas chardonnay podem conter compostos derivados da fermentação que provocam dor de cabeça em algumas pessoas, principalmente os vinhos chardonnay com mais acidez, conforme alguns estudos comprovam.
Nos vinhos tintos, os polifenóis antocianinos podem causar mal-estar em algumas as pessoas, mas são casos pontuais e uma parcela muito pequena da população mundial, conforme vários estudos.
O tanino que tanta gente rejeita e até há quem alega ter alergia a ele, é apenas um dos muitos polifenóis encontrados nas cascas das uvas, que são arrastados para o vinho tinto, já que em sua produção, a polpa e a casca das uvas são maceradas juntas