Quando estava de férias, saí para caminhar na praia bem cedo. Após poucos minutos de caminhada vi na faixa de areia algumas pessoas com celulares nas mãos, como se buscassem algum contato, reunidas ao redor de alguém deitado no chão.
Ao me aproximar percebi que se tratava de um homem de cerca de 65 a 70 anos, de sunga, o corpo já bastante arroxeado com os olhos abertos, aparentemente sem vida. Um casal que passava ao meu lado comentou que ele provavelmente havia sofrido de um infarto.
Ficamos atônitos, sem saber como agir, a polícia já tinha sido chamada pois as pessoas estavam com celulares não para fazerem gravações, mas para conseguirem socorro, mais pessoas paradas ao redor não ajudariam em nada. Após tudo aquilo pensei muito sobre aquele homem, uma pessoa como eu, que saiu para caminhar, só que não voltou. Um jornal local noticiou que não foi possível identificá-lo, já que não portava documentos.
Um corpo sem vida não é apenas um corpo: ele é a nossa casa, a morada provisória real e simbólica que nos permite viver, construir e deixar nossa história, e construir relações também, alguém, alguns minutos depois ao saber que um ente querido não mais voltará para casa, vai chorar a sua perda.