Eu gosto muito de uma oração sufi do século VIII depois da era cristã que diz assim: “Senhor Deus, se eu te busco por medo do inferno, queima-me no inferno. Se eu te busco por desejo do teu céu, expulsa-me do teu céu. Mas se eu te busco pelo que tu és, mostra-me a tua face e recebe-me no seio da tua glória”.
Essa prece é um profundo testemunho de amor puro, desinteressado e incondicional por Deus, ou mais amplamente, pela verdade. Ela expressa uma postura espiritual madura e corajosa, onde o buscador não está motivado pelo medo da punição, que é o inferno, nem pelo desejo da recompensa, que é o céu, mas apenas pelo anseio de estar com Deus pelo que ele é.
A pessoa não quer viver ou amar a Deus por estar com medo do castigo eterno, considera isso indigno de uma busca verdadeira. Também renuncia ao interesse pessoal como guia.
Buscar a Deus apenas para receber o céu é nessa perspectiva um apego disfarçado, um egoísmo espiritual. O céu não deve ser o fim. Deus deve ser o fim.
A pessoa deseja a comunhão com Deus simplesmente porque Deus é o que há de mais belo, verdadeiro e digno de ser amado.