Fábulas atravessam tempos e lugares. Uma história judaica conta sobre um professor e um relógio, talvez antiga, mas ainda atual.
Um jovem reencontra seu antigo mestre e o agradece. Esse jovem virou professor por causa daquele brilhante docente. No encontro, o ex-aluno lembra de um episódio marcante. Quando criança, roubou o relógio de um colega.
O professor, sem saber quem tinha feito aquilo, pediu que o objeto fosse devolvido. Ninguém se mexeu. Assim, o professor trancou a porta da sala, fez todos os alunos ficarem de pé contra a parede e fecharem os olhos. Passou de um por um, revistando seus bolsos e mochilas. No fim daquela fila, entregou o relógio ao verdadeiro dono. Seguiu a aula sem acusações, sem constrangimentos.
O menino nunca esqueceu, sentiu vergonha, culpa e, ao mesmo tempo, alívio; sua dignidade estava salva. Anos depois, ao contar aquela história, o mestre respondeu: “Lembro do relógio, lembro da situação, lembro de você, mas não sabia que tinha sido você que fez isso”.
Porque naquele dia, enquanto olhava os bolsos de cada aluno, enfileirava e, com os olhos fechados, eu também fechei os meus olhos.
