08/08/23
Redação: Rolling Stone Brasil
Imagem: MarVin/ Divulgação
“Eu queria que fosse uma montanha-russa de situações.” É assim que Iza parte em direção a AFRODHIT, o segundo álbum de sua carreira. Lançado nesta quinta-feira (3), cinco anos após sua grandiosa estreia em Dona de Mim, o novo disco é uma viagem – tanto pelos altos e baixos que elaa própria experimentou recentemente em um processo de separação, quanto pelo universo múltiplo de referências que ela traz consigo.
A viagem – ou o arco, que vai, faixa a faixa, da desilusão ao encontro de um novo amor – começa em fevereiro deste ano, quando Iza se desfaz de um material pronto para o futuro disco. Do zero, ela recomeça o álbum. Dessa vez, com a determinação de fazer do registro uma exposição ainda mais crua de si – sempre no campo da arte.
Longe de um disco triste, porém, AFRODHIT reúne elementos de MPB, rap, trap, reggae, reggaeton e até do rock nacional de Raimundos, Tijuana e CPM22, que fizeram parte da formação musical de Iza. Para além disso, as músicas trazem questões femininas nas letras – do infeliz gaslighting de todo dia à uma relação aberta e bem-vinda com a redescoberta do sexo:
“Quando falo de ‘tocando meu umbigo com a testa’, estou claramente falando sobre sexo oral feminino. Isso de ‘ouvindo cores no ar’, tudo vem de uma visão muito feminina.”
A voz de muitas mulheres
Na missão de colocar um álbum novo no ar em cinco meses, Iza teve a seu lado um time potente, que inclui Djonga, L7nnon, Nave, Russo Passopusso e Arthur Verocai, mas principalmente mulheres talentosas, reponsáveis por várias das nuances que expressa em AFRODHIT. Assim, ela se alia a compositoras como MC Carol, Carolzinha, Jenni Moselo, Lary e King, além de Tiwa Savage, de quem Iza é fã declarada. O resultado aparece ora denso em faixas como “Que Se Vá” ou “Nunca Mais”, ora debochado, como em “Fé nas Maluca” e “Fiu Fiu”.
O movimento, calculado, é também uma mensagem de Iza sobre a indústria e o mercado da música, ainda tão masculino e, por vezes, machista:
“Cada vez mais a gente precisa falar sobre isso, porque existe não existe uma escassez de compositoras. O que existe é um bloqueio enorme, que dificulta com que essas mulheres incríveis trabalhem. E por a gente falar de um cenário musical que é extremamente machista, a gente tem essa dificuldade, né? De se ver nos lugares não só compondo, mas como engenheira de áudio, produtoras, roadies e tudo o mais.”
Carolzinha, que acompanha Iza desde “Dona de Mim”, falou sobre a renovação da parceria: “Esse álbum é um projeto em que a Isabela Cristina se permitiu ser vista e alcançada por mais mulheres e parceiras. Foi uma construção muito especial. Que vai tocar a todos mas vai emocionar as mulheres.”
Mais ‘dona de mim’ que antes
É com a ajuda das mulheres que Iza entrega o resultado mais maduro de sua carreira até então. E reflete, em faixas como “Terê” – um tributo à potência de sua tia Tereza -, as muitas formas de se experimentar o universo feminino. Um empoderamento que evolui desde o último registro.
“Essa evolução significa ser mais ‘dona de mim’ que no primeiro álbum, porque significa que eu sou realmente das minhas falhas, dona das minhas vivências dando as coisas que eu senti dona de sentimentos que não são nobres”, reflete.
“Hoje olhando para trás eu vejo que eu tinha muito que o muito o que evoluir. Agora eu tô sendo muito sincera, me sentindo muito pessoal, e não estou me preocupando com o que as pessoas vão pensar porque na verdade isso não é a minha responsabilidade.”
Para o ouvinte, embarcar com Iza na viagem que ela recomeça em fevereiro, é também entender que o empoderamento não aparece desligado da vulnerabilidade. E que não precisa necessariamente ser sisudo – ao contrário! AFRODHIT é também a marra de “Mega da Virada”, o groove de “Boombasstic” e o abrobeat de “Bomzão”. Um trajeto de maturidade, cura e reconquista, que Iza hoje conhece bem:
“Acho que a Iza que recomeça o disco em fevereiro era uma Iza mais insegura, mais preocupada em levar em consideração no que os outros poderiam pensar. Mais preocupada em errar. Achava que se eu errasse, buracos iam se abrir na terra, os céus iam cair e eu ia me desintegrar. E nada disso acontece. E agora acho que sou uma pessoa mais madura, uma Iza que sabe que as pessoas nem pensam tanto assim na gente, que as pessoas estão vivendo suas vidas. É muito viciante assim chegar nesse lugar.”