Leipzig é uma pequena cidade da Saxônia, na Alemanha. É de lá que vem um dos estilos mais interessantes e emblemáticos de cerveja: a Gose, cerveja medieval que leva sal em sua composição. Na verdade, a cerveja Gose não foi inventada em Leipzig.
A cidade apenas resgatou, já no século XX, o estilo que era produzido muitos séculos antes, no período medieval, na região da Baixa Saxônia, às margens do rio Goslar. O que acontece é que, na Europa medieval, os cursos d’água não apenas abasteciam as cidades, eles eram também utilizados para despejar dejetos e todo tipo de lixo, como a peste negra veio a comprovar.
O rio Goslar recebia os refúgios das muitas minas de sal exploradas naquela região. No século 13, em plena idade média, a população de Goslar começou a produzir cerveja utilizando a água do rio, que por não ser tratada, era salgada. A bebida, portanto, tinha o gosto de sal acrescido de acidez intensa devido à fermentação lática que acontecia espontaneamente.
Por suas características um tanto quanto estranhas, as cervejas Goslar foram perdendo popularidade até quase serem extintas durante durante a Segunda Guerra Mundial. Foi no período pós-guerra que cervejeiros de Leipzig decidiram resgatar as antigas receitas daquela cerveja, chamada então de “Joia da Alemanha”.
Por muitas décadas, apenas em Leipzig se bebia Gose, até que nos anos 80 cervejeiros artesanais norte-americanos se aventuraram a reproduzir estilos clássicos, trazendo de volta as cervejas salgadas com uma pegada mais contemporânea. Eu contei toda essa história para pontuar que a taberna Auerbachs Keller, localizada justamente em Leipzig, está completando em 2025, 500 anos de existência.
O bar é famoso por ser o palco da tragédia Fausto, escrita por Goethe em algumas de suas mesas. Mesas nas quais se serviram também nomes históricos, como Martinho Lutero ou o compositor Robert Schumann. Como se vê, cerveja é testemunha da história da humanidade.