O Brasil ainda não é considerado um produtor de vinhos por excelência, mesmo com nossa produção cada vez mais robusta, consistente e com premiações internacionais importantes, inclusive. O próprio consumidor brasileiro torce o nariz para os vinhos do seu país, dando preferência aos importados que nem sempre são tão bons assim.
É a famosa síndrome de vira-lata, da qual não conseguimos nos livrar. Desde o início da década de 80, quando a técnica da poda invertida começou a ser usada na Serra Gaúcha e depois se espalhou para todas as regiões brasileiras que as uvas viníferas vingaram por aqui. Hoje, temos uma produção rica nos estados do Sul, mas também em Pernambuco, Nordeste, Brasília – em pleno cerrado do Planalto Central – e aqui mesmo em Minas Gerais.
Hoje os vinhos tem alcançado notas altas em vários rankings. Nunca foi tão fácil beber vinhos feitos perto de nós, mas é nos espumantes que as vinícolas brasileiras mais se destacam. Nosso especialista convidado Nelton Fagundes explica o porquê.
“O brasileiro estuda muito vinho. Os profissionais levam uma série de coisa. Se você conversar com o sommelier de outros países que estudam vinho, eles vão saber o que é que é a terra de espumante, se ele for estudioso.
Quando os caras vêm para cá, eles querem levar espumante para ver, para comparar. Se você falar com o francês, ele sabe também que o Brasil é referência. Realmente, são muito bons.
Por que que é muito bom? Porque o que o que é ruim para o tinto é bom para o espumante. Na época da colheita no Sul, que é janeiro, fevereiro e março, você colhe ao contrário do hemisfério Norte, lá é agosto, setembro, outubro. Chove muito, então o solo fica muito ácido, é muito bom para uva branca com acidez alta, que é a matéria prima perfeita do espumante.
Por isso que os vinhos tintos do Brasil tem uma acidez mais marcante, porque o nosso solo, de onde é feito os melhores espumantes, tem uma uma herança de acidez maior devido à chuva, devido a essa complexidade.
Por esse motivo, é até feio hoje, uma gafe, você pegar um espumante barato e não pegar um brasileiro. Vai fazer um casamento, vai colocar coisa importada, pior? Prestigia o nosso espumante porque eles estão mandando muito bem e inclusive com muitos clientes na França, não é à toa que a Chandon está aqui.”
E para fechar a nossa série sobre o vinho, a pergunta é: o que faz com que um vinho seja considerado de boa qualidade?
A resposta é ambígua, porque o conceito de bom vinho é muito particular. Depende do conceito de cada pessoa, da experiência de cada um. O melhor mesmo é entender-se a si mesmo como consumidor de vinho e julgar o que é bom ou ruim para você. Vinho bom é o vinho que você gosta, diz o jargão.
Eu agradeço imensamente ao Nelton Fagundes, sommelier consultor da LiberWines, que esteve conosco durante toda esta semana com dicas e explicações valiosas sobre o vinho.