Na zona rural da grande BH mora Dona Geralda, uma senhora que beira os 100 anos de idade com a mesma firmeza de quem nunca perdeu o compasso da vida. Acorda antes do sol, faz suas orações em silêncio e vai para a cozinha, quando o céu ainda é noite.
O fogão a lenha fica lá fora, aquecido com a madeira que ela mesma corta com a velha cunha herdada do pai. O café é coado no pano, com açúcar muito generoso e o cheiro que sai dali abraça a casa inteira. De avental florido e mãos firmes, ela prepara quitandas para os netos que chegam no fim de semana e para qualquer um que apareça com saudade ou fome, porque dona Geralda é dessas que cozinha com a alma.
Perguntei se ela não tem medo de viver sozinha ali no meio do mato, entre lembranças e silêncios. Ela sorriu e disse: “O medo se perde com o tempo”. Insisti, curioso: mas e se a senhora cair, se a senhora se sentir mal? Com a serenidade de quem já entendeu a vida, respondeu: “Quando isso acontecer, eu me preocupo. Sofrer antes é perder tempo de viver”. Eu tomei o café, comi amor em pedaços e cocada branca.
Trouxe doce de leite em losangos e uma certeza leve. O prazer pode morar no sofisticado, mas é no simples que mora o amor. E em Dona Geralda, ele mora em tempo integral.