A chegada da vida adulta, para muitos jovens, é carregada de desafios. Viver em capitais como Belo Horizonte e São Paulo é conviver com urgências por dinheiro, estabilidade e relacionamentos. Os integrantes da banda Daparte, no auge de seus vinte e poucos anos, sentiram na pele e transformaram em música as demandas da recém–chegada adultice.
Nessa quinta–feira (17), o quinteto lançou seu terceiro álbum, intitulado “Baterias de Emergência”, em que retratam as angústias desse período da vida. O grupo de cinco jovens mergulhou na produção do próprio disco, apostando nas próprias “piras” e na vontade de criar um som singular.
Em um bate–papo com a Rádio CDL FM, João Ferreira (vocal e violão), Juliano Alvarenga (vocal e guitarra) e Daniel Crase (bateria) mergulharam nas ideias por trás do novo projeto, que é definido como uma revolução sonora da banda.
Além da produção feita pelo quinteto – completam o grupo Túlio Lima Cebola (baixo) e Bernardo Cipriano (teclado) –, o álbum também foi escrito pelos músicos, baseado em suas próprias vivências nas cidades de Belo Horizonte e São Paulo. Nas 10 faixas, a Daparte aborda a indiferença, o tédio, a ansiedade e a decadência de empatia no mundo contemporâneo.
Álbum noturno
Sonoramente, samples e sintetizadores são o plano de fundo para contar essas histórias. “Eu acho que o elemento sonoro que mais deu uma cara para esse disco foi o teclado. No álbum, falamos de temas existencialistas e ele traz uma ideia meio de noite, é um disco muito mais noturno do que solar”, reflete Juliano.
“Acho que os samples também, de bateria e de percussão, que a gente usou pela primeira vez com mais incisão. Tem algumas coisas que também trouxeram um ritmo diferente do que nós fazíamos antes”, completa João.
A escolha desses elementos para construir as novas canções partiu de referências de diversas bandas, principalmente “The Last Shadow Puppets”, do cantor Alex Turner. A inspiração pode ser vista de forma mais incisiva nas faixas “Lâmina Cega” e “Notas Sobre o Mau Humor”.
“Liricamente uma coisa que sempre volta é o Clube da Esquina, a gente gosta muito, é uma coisa que sempre está no nosso imaginário, querendo ou não. Acho que uma das coisas que moveu a gente criativamente era a vontade de fazer, de achar coisas esquisitas, de não ficar bitolando tanto em referências”, relembra João Ferreira.
Daparte coloca mão na massa
Essa “vontade de fazer” mencionada por um dos vocalistas esteve bastante presente no processo de produção de “Baterias de Emergência”, que durou de 2022 a 2024. A banda fez questão de assumir a tarefa e se afastar dos grandes produtores que assinaram seus trabalhos anteriores.
“Nós falamos ‘pô, vamos botar a gente mesmo toda a nossa alma e tudo o que acreditamos enquanto músicas de referências nesse disco’. Foi legal nós termos arcado com essa produção sabe? Ter feito tudo da nossa cabeça e do que dava na telha ali na hora. Às vezes fica um pouco mais original”, reflete Juliano.
Questionados sobre as dificuldades desse processo, João aponta o desafio de se fazer um álbum, enquanto Daniel levanta a questão da ansiedade. “Como a gente teve essa liberdade muito grande, aconteceu um pouco de ficar ansioso por ouvir algum resultado, de ter alguma coisa mais concreta em mãos”.
Já Juliano reflete sobre a relação da Daparte com produtores. “A gente começou muito novo no estúdio e a figura do produtor sempre foi meio protagonista demais para a gente, era quase como se fossse um supervisor, em certos momentos era até o pai do Bê [Bernardo Cipriano], que é um ótimo produtor”.
“E às vezes a gente ficava meio engessado, com medo de bancar uma ideia e ir adiante com ela de forma firme. Nós estávamos sempre muito abertos a abrir mão também, em respeito às vozes dos grandes produtores que nós começamos a trabalhar. Acho que fizemos o caminho inverso do que as bandas costumam fazer”.
‘Comparação não é preocupação’
Agora, com o resultado de todo o trabalho do grupo disponível nas plataformas de streaming, a Daparte espera difundir sua singularidade. “A gente falou o que nós queríamos, do jeito que a gente queria e do jeito que conseguimos falar, acima de tudo. É a verdade de um momento que nós estávamos vivendo e com muita intenção”, afirma João.
“Comparações ou se o disco vai diferenciar a gente das outras bandas do mercado, bom, isso realmente não foi uma preocupação nossa, mas é interessante levantar esse ponto. Tomara que as pessoas consigam identificar essa identidade e, se forem comparar, que comparem com coisas boas”, completa Daniel.
Ouça Baterias de Emergência:
Show da Daparte no Sesc Palladium
A banda já tem marcado o show de estreia do álbum em Belo Horizonte, no dia 29 de novembro, no Grande Teatro Sesc Palladium. “A gente optou por fazer esse lançamento num teatro porque queremos entregar esse show como um espetáculo para mais pessoas. Resolvemos dar um formato diferente”, diz Daniel.
Os ingressos estão disponíveis a partir de R$ 35 neste link.