Em uma noite, enquanto eu caminhava pelas ruas de Belo Horizonte, passei por um trecho escuro descendo a Contorno e quase chegando na Avenida Augusto de Lima. Em uma esquina, perto de uma banca de revistas, um rapaz estava sentado no chão, acendendo um cigarro ou algo semelhante.
Observei de longe, notei que ele usava calçados gastos, uma touca na cabeça, uma manta sobre o ombro e tinha alguns pertences no chão, mas parecia que ele não dormiria por ali, parecia que ele estava em trânsito.
Na avenida, tinha apenas alguns garis que seguiam na direção oposta, afastando-se de mim e do rapaz. Ao passar diante dele, olhei e disse: “Boa noite”. Ele, que era muito jovem, olhou para mim, tirou aquilo que tinha na boca e, assustado, respondeu: “Boa noite”.
Dois passos depois, ele me gritou: “Moço!”. Olhei para trás, diminuindo o ritmo da caminhada e ele disse: “Vá em paz. Deus abençoe sua noite e seu Natal. O seu e da sua família”. Voltei e ainda calado cumprimentei-o com um soquinho na mão e disse: “A frase que eu mais gosto de ouvir é essa que você acabou de dizer. Vá com Deus ou Fique com Deus.”
Ele respondeu que dormia na rua, mas nunca dormia sozinho porque conversava com Deus sempre e completou: “Deus conversa comigo pela atenção dos estranhos. Deus conversa comigo toda vez que alguém me enxerga”. Naquele dia, Deus conversou comigo e eu também ouvi.