O Chile comemora 30 anos de carménère, um dos maiores plot twists da história do vinho no mundo. Foi em 1994 – falando assim parece bem recente – que o ampelógrafo francês, Jean Michel Boursiquot descobriu que as vinhas centenárias de merlot, cultivadas no Chile eram, na verdade, uvas carménère, espécie que era dada como extinta na França, desde 1860, devido à praga filoxera.
O que aconteceu é que, antes do ataque da praga, mudas tanto de merlot quanto de carménère haviam sido levadas para as Américas, e no Chile, elas se adaptaram perfeitamente às condições climáticas e geológicas andinas, onde a praga filoxera não se cria.
Portanto, os vinicultores chilenos passaram mais de 100 anos acreditando que produziam somente merlot, até que o especialista francês, que foi ao país participar do Congresso Sul-Americano de Viticultura e Enologia, realizado em 24 de novembro de 1994, desconfiou que algumas das videiras dadas como merlot eram, na verdade, de carménère.
Para não restar dúvidas, testes de DNA feitos nas uvas dois anos depois comprovaram que Boursiquot estava certo, e assim, o Chile passou a ser reconhecido como o país que ressuscitou essa variedade de uvas.
Hoje, a carménère voltou a ser plantada na França na sua região original, que é a de Bordeaux, mas, em poucos hectares e apenas para uso em blends, que são as misturas entre uvas para compor um vinho. No Chile, ela é cultivada com orgulho e serve muito como marketing para os vinhos produzidos por lá, apesar de não serem os mais vendidos e exportados.
Cabernet sauvignon, na verdade, ocupa a posição de mais vendido no Chile. Aí você pode me perguntar a diferença entre merlot e carménère, então, a resposta eu trago no Líquido & Certo de amanhã!