Vocês tem que conhecer a Dona Margarida. Ela chegou a um lar de idosas cheia de restrições médicas. Não saía da cama, resmungava de tudo, dizia que a vida já estava pesada demais para carregar. Um dia, a assistente social nos pediu ajuda.
Dona Margarida e mais três idosas estavam em tratamento para depressão, mas precisavam de algo simples que lhes devolvesse algum prazer cotidiano. Fui conversar com ela. A resistência foi grande. Respeitei o tempo dela. Num dia desses, na hora do café, contei às outras idosas que minha mãe, que na época tinha 86 anos, era apaixonada por orquídeas.
Quando me despedi da dona Margarida, minutos depois, ela comentou: “Sua mãe tem bom gosto”. Aquilo ficou ecoando em mim. Na semana seguinte, levei orquídeas para todas elas. Algumas nem gostavam de planta, mas agradeceram. Pouco tempo depois, a assistente social me manda uma mensagem. Dona Margarida já não ficava mais na cama.
As orquídeas da casa foram todas parar com ela, que agora passava boa parte do dia cuidando e conversando com as plantas. Não foi a orquídea que tirou dona Margarida da cama. Foi o senso de ainda ser útil.
