Uma amiga me contou que decidiu levar a filha para fazer visitas voluntárias. A menina estava definhando emocional e mentalmente. Já não via sentido na vida, começou a se autolesionar, perdeu apetite. Familiares e médicos ficaram alarmados.
Psicólogo e psiquiatra recomendaram o voluntariado como parte do cuidado, mas se assustaram com a fala da mãe. “Ela precisa ver que tem gente com sofrimento de verdade nesse mundo”, dizia a mãe.
Foi aí que os especialistas fizeram alerta. O voluntariado não é uma régua para medir dor, não é uma disputa para ver quem sofre mais. Ele existe para nos ajudar a enxergar sentido, a encontrar, no outro, partes de nós. É sobre conexão, sobre perceber que todos temos algo a oferecer.
Sempre somos úteis a alguém, a uma comunidade, ao mundo. Na hora eu me lembrei do livro do Ailton Krenak, que já citei aqui: “A vida não é útil”. O útil aqui quer dizer que a vida não tem que ser mecânica ou produtiva o tempo inteiro. Ela é vínculo, é esperança, ela não é utilitária.
E o voluntariado é isso, é compromisso com o outro e também com a gente mesmo. Que ele vire hábito, que ele nos transforme a cada encontro.