Seu Raimundo me disse que é forasteiro. Eu ri do termo, que hoje ouço pouco, mas que sempre associo a filmes de faroeste, com aqueles forasteiros chegando em uma cidade longínqua, entrando no bar, com aquelas portinhas de madeira, que balançam no vai e vem ao ser ultrapassadas.
Ele chegou naquele lar de idosos porque veio do interior de Minas em busca de melhores oportunidades em comparação com as que tinha na roça, mas por aqui ficou. Agora, com a mobilidade comprometida, conseguiu com a ajuda do pessoal da Assistência Social do município, referindo-se ao CAPS, uma vaga naquele lugar abençoado.
Perguntei sobre a rotina da casa e ele disse que era puxada, que agora tem até Pilates, e ele vai rezando para dar conta. Foi ele quem me perguntou quais eram os meus sonhos para 2025 e eu brinquei dizendo que ainda não tive tempo para pensar nesses sonhos, expliquei que estava com algumas aspirações, mas que sonho mesmo eu ainda iria escrever naquelas listinhas de fim de ano.
Ele me disse que o sonho dele é o mesmo de todos os anos, sempre pede a Deus para que não viva e não morra sozinho. E completou: “Tenho mais medo da solidão do que da morte.”