No livro Toda Dor e Todo Amor que sinto aqui, que organizei junto com o músico Sander Meca, convidamos várias pessoas para escreverem cartas sobre as suas dores. Um dos capítulos é da médica paliativista e professora Cristiana Savoi. Ela fala sobre perdas e lutos, que nos lembra de algo muito importante. Não fomos ensinados sobre a impermanência, que é a única característica permanente da vida. Enquanto a gente sofre, o mundo parece seguir normalmente.
As pessoas vão ao trabalho, o sol nasce, como se fosse possível continuar sem aquela presença tão essencial. Isso me fez lembrar do que disse a mãe da atriz Daniela Peres na série Pacto Brutal, no dia em que ela soube da sua morte. O dia amanhecia e tudo seguia como se nada tivesse acontecido. Para os outros.
Mas a verdade é que é muito importante viver o luto, para não viver de luto, dar lugar à dor, sentir, nomear, atravessar no tempo que for preciso. E a doutora Cristiane faz um alerta: às vezes o luto não passa, ele muda de forma, vira outra coisa, mas segue ali, fazendo parte de quem somos agora.