Acabei de escrever um livro e dei o nome de “Onde Moram As Ausências”. Minha ideia foi refletir sobre tudo aquilo que se foi ou que idealizamos como nosso, mas que na verdade nunca foi. Falamos muito sobre fechar ciclos, mas há situações tão difíceis que simplesmente não podem ser encerradas. Um pai ou uma mãe que perde um filho, pode seguir a vida, mas ela nunca será a mesma.
Dias atrás, uma ouvinte me chamou a atenção por uma fala que fiz aqui nas nossas pílulas diárias. Eu contei a história da jornalista Marília Gabriela, que construiu uma vida solitária e, segundo mencionei, carrega suas culpas, mesmo tendo consciência de que tudo foram escolhas e hoje consequências. A ouvinte me corrigiu. Ela não tem culpa, ela se responsabiliza por aquilo.
E é verdade, Marília se responsabiliza. Há uma diferença sutil entre os conceitos, mas a autorresponsabilidade traz mais consciência sobre o que aconteceu, enquanto a culpa carrega um peso de penalização pelo que foi feito ou deixado de fazer.
As ausências que abordo em meu novo livro vem de histórias reais e dolorosas, mas reconhecê-las pode ser o primeiro passo para mudar o cenário. Não se trata de esquecer, mas de ressignificar a forma como percebemos e enfrentamos essas perdas.
Como disse o jornalista Luiz Ripper: “No prefácio, é impossível que alguém não carregue pequenas ou grandes ausências. Ao longo da vida, talvez essa seja a nossa maior coleção acumulada”.