Esses dias, eu fui a um lar de idosos para fazer uma visita. Uma da senhoras, bem lúcida, sempre andava com um radinho para cima e para baixo. Nesse dia, ela não o carregava. Outra coisa que ela gosta de ficar é sentada na ponta da cama bem ereta, vendo os programas de televisão. Também não queria saber disso nesse dia.
Fiquei preocupado e fui conversar com uma das cuidadoras para saber se estava tudo bem, antes mesmo de abordar aquela senhora. A funcionária me disse que a nossa amiga havia abandonado o hábito da televisão e do rádio esta semana.
Olha, eu já comecei a imaginar que ela pudesse estar entrando num estado depressivo e me apressei para falar com ela, perguntando, “Dona Maria, bom dia, o que aconteceu que a senhora largou o rádio e a TV hoje? Está desanimada?”. E ela me respondeu: “E quem não fica se a televisão e o rádio parece que se uniram para fazer a gente adoecer? É só tragédia que eles contam, e que eu dormia todos os dias com um aperto no peito que não dava conta dentro de mim”.
E acrescentou: “Dizem que velho não muda hábito, é mentira. Eu troquei notícia ruim por bico de crochê em pano de prato. É só trazer o pano que eu faço um para você”. Ela que me ensinou sobre saúde mental – aquilo que a gente escolhe, que entre em nossa mente.