Passei alguns dias no Maranhão e acabei indo todas as noites jantar no mesmo restaurante. Enquanto esperava o pedido ser feito pela cozinha, a senhora que me atendeu na primeira noite foi a mesma dos outros dias. Um mineiro e um nordestino, quando se encontram, já se sentem em família.
Ela tem 68 anos e me contou que perdeu uma filha há pouco tempo e que agora é ela quem cuida do neto, um menino com síndrome de Down. Todas as noites, ele fica com a vizinha enquanto ela trabalha.
Disse que não quer parar, já que ama trabalhar, mas também porque precisa. Aquele trabalho garante o leite, o remédio e a dignidade dos dois. E também porque, de algum jeito, faz com que ela se sinta útil.
Me contou que já passou por muitas tristezas, mas escolheu não carregar nenhuma delas como peso. O que dá sentido a vida dela é o neto.
“Ele é minha alegria, minha razão. Só tenho medo de partir antes de ver ele caminhar sozinho”, disse.
E é por isso que ela trabalha a independência e a autonomia dele, preparando o neto para um mundo onde ela não esteja mais. Tem gente que é força disfarçada de doçura. Aquela mulher é uma dessas pessoas.