Um dia encontrei uma idosa que aguardava o ônibus em um ponto do bairro Lourdes. Enquanto esperávamos, ela me contou que morava sozinha, havia perdido o marido, que por muitos anos viveu com demência. Os filhos a visitam com frequência, e uma pessoa vai à sua casa para poder cuidar da limpeza e preparar as refeições.
Mas ela gosta mesmo de sair de casa, usa táxi, carro por aplicativo e ônibus, que no horário em que costuma pegar, o fluxo não é tão intenso e isso lhe permite algo que ela também gosta muito: conversar. Ela sempre amou a liberdade e acredita que, se perdê-la, perderá também o sentido da vida: “Se eu perder a autonomia, tenho medo de querer deixar de viver”.
Simpática, foi ela que empurrou a conversa, com os cabelos bem grisalhos e um sorriso leve. Contou que ainda lê bastante, diz ter uma vista privilegiada. Usa o celular lá para ver vídeos e gosta de televisão, principalmente para poder pegar no sono. Às vezes, sente-se sozinha, mesmo com os filhos ligando quase todos os dias.
Perguntei se ela tinha algum animal de estimação, ela respondeu sem hesitar: “Não, não tenho. Amo animais, mas não para prendê-los em casa. Eu gosto mesmo é de interagir com gente”.