“Eu sinto que preciso trabalhar em mim e com os meus irmãos que papai está indo embora”. Foi o que me disse uma amiga tentando conter o choro. O pai dela perdeu muitos quilos, já quase não enxerga, anda mais calado, está triste. Eles estão sempre por perto cuidando, mas no fundo, tentando segurá-lo aqui.
Por amor, eu sei. Só que no outro dia ela percebeu uma coisa dolorosa e profunda: a gente não pode querer que alguém fique só porque o amamos. A vida tem fim. E é chegada uma hora que precisamos começar a despedida. Enquanto ela falava, chorou. Eu também. Mas eu não disse muito, só consegui murmurar. É a vida. E eu acho que foi o suficiente.
Ela precisava organizar os pensamentos, dar nome ao que sentia e, ao falar, encontrou clareza. Conversar com os irmãos era difícil, eles evitavam o assunto, mas ela insistiu, falou com cada um separadamente. Descobriu que o sentimento era o mesmo. Todos sabiam, todos sentiam, mas ninguém tinha conseguido dizer. Essa partilha trouxe conforto. Dois dias depois, juntos, eles se despediram do pai.
Não há roteiro para o adeus, mas quando o amor se transforma em presença serena e respeito pelo tempo do outro, a despedida, mesmo doída, se torna o entendimento de um ciclo que chega ao fim para todos nós.