No dia do bingo, todas estavam animadas. As idosas que não conseguiam sair da cama foram acompanhadas pelos voluntários, que as ajudariam a marcar as cartelas. Uma delas não quis participar e teve sua vontade respeitada. Da sua cama, ela observava. Parecia nervosa quando um número não contemplava suas colegas de quarto.
Na sala, uma senhora em uma cadeira de rodas exibia sorrisos largos a cada número marcado em sua cartela. Estava completamente envolvida na brincadeira quando as enfermeiras chegaram para buscá-la. Era o filho, a nora e os netos que tinham vindo visitá-la.
No mesmo instante, ela esqueceu a cartela, os prêmios, tudo ao redor. Saiu com alegria e ânimo sem igual, mas voltou menos de quinze minutos depois, visivelmente desanimada, quase derretida em sua cadeira. Ficou diante da cartela, que ainda continuava no jogo, mas não quis mais participar.
Perguntei às enfermeiras o que havia acontecido, se ela tinha recebido alguma notícia triste. A resposta foi que o filho e os netos deram um abraço rápido, perguntaram se ela estava bem, mas não puderam ficar, pois estavam atrasados para uma festa na escola.
Ela sugeriu que pudessem ficar um pouco mais, visitá-la em outro dia sem pressa ou até mesmo levá-la para assistir à apresentação dos netos, a quem tanto ama. Mas nenhuma dessas sugestões foi levada a sério.