Meu pai era médico e, quando ele se aposentou, decidiu se enfronhar no mundo das tintas, pincéis e telas e produziu muita coisa bonita nessa vida.
Meu irmão que é médico e também sempre gostou de pintar, tem dado mais atenção a esse seu lado artístico e esses dias nós estávamos conversando sobre o que ele tem produzido. E eu me lembrei de algo que nós sempre fizemos desde bem pequenos: nossa casa sempre teve obras de arte nas paredes. A gente tinha uma prática intuitiva que era de sentar de frente para esses quadros e ficar ali, mirando, por admirá-los.
Eu refiz esse exercício há poucos dias frente ao que o meu irmão tem pintado e me veio à memória um texto que li do poeta mexicano Octavio Paz.
“Existem muitas maneiras de se aproximar de uma pintura, em linha reta, face a face, com olhar oblíquo, em sobrevoo, com atitude de um caçador medindo com os olhos e em zigue-zague, através de um modo franco, magnetizado, reflexivo. Invento outras, como um graxaim na espreita de sua presa, como o escafandrista prestes a submergir em águas obscuras, em rodopio após o salto no vazio, como numa cegueira repentina, tateando as paredes, escaneando ou ainda não visto, assim como por meio de uma observação cirúrgica, cuja nitidez reverte a ordem do visível”.
Lindo isso, né? E você? Já parou em frente de uma tela e ficou assim, deixando a sua intuição te levar pelo simples prazer de ver o que tá havendo?