Você já parou para pensar na força de um verso? Belchior nos deixou um que provoca silêncio e reflexão, um não, ele nos deixou vários, mas eu trago esse aqui:
“Qualquer canto é menor do que a vida de qualquer pessoa”.
Mas o que ele quis dizer com isso? A palavra canto aí é ambígua e essa ambiguidade é linda.
De um lado, canto pode ser um lugar físico, um canto da casa, do quarto, da cidade, e nesse sentido Belchior nos lembra que nenhum espaço é suficiente para conter a grandeza da vida humana.
A vida transborda, não cabe nas caixinhas que tentam nos impor, isso faz eco com toda a música “Como os Nossos Pais”, onde ele fala de prisões invisíveis, de identidades oprimidas, de gerações sufocadas por convenções.
Mas canto também pode ser canção, arte, poesia e aí o sentido se expande. Nem mesmo a arte é maior que a vida real, porque viver com seus amores, perdas, dúvidas e esperanças é mais complexo, mais valente, mais urgente do que qualquer verso. No fundo, o Belchior parecia dizer: “Antes de cantar sobre a vida, é preciso vivê-la inteira”.