Na varanda de casa, Jorge passava as tardes vendo o tempo escorrer pelas suas mãos. Tinha sido um pai e um marido ausente. Trabalhava demais, não acompanhou o crescimento dos filhos, perdeu noites em jogos, dinheiro em apostas e pedaços da vida em relacionamentos fora do casamento. A esposa é educada numa época em que se esperava que a mulher suportasse tudo em silêncio, calou suas dores e seguiu ao lado dele.
Assim foram os anos, marido, esposa e filhos vivendo juntos, mas distantes. Quando aposentadoria o colocou frente ao ócio e a doença chegou, Jorge percebeu o quanto estava afastado dos próprios filhos. A esposa já tinha morrido e o que restava era solidão e a culpa. Mesmo magoados, os filhos cuidaram dele. Nesse cuidado, aprenderam a se ver novamente como família, embora a intimidade nunca tivesse sido construída.
Um filho se mudou para outro estado. A filha partiu para outro país. Jorge decidiu viver em um lar de idosos. Foi lá que eu encontrei. Com os olhos cheios de lágrimas, confessou arrependimentos. Disse que pediu perdão aos filhos, mas a esposa não deu tempo. Chora todos os dias, sabendo que o passado não pode ser reparado.
E em tom sério, quase como um aviso, ele me disse: “O mal que fazemos, dele vivemos”.