“Na hora do almoço” de Belchior é daquelas músicas que parecem simples à primeira escuta, mas carregam um peso existencial profundo. Com versos repetidos, quase obsessivos, o compositor expõe a solidão, o desencanto e até o vazio que atravessam a vida cotidiana.
O almoço, que normalmente é o momento de encontro e partilha, vira metáfora para falta de afeto e ausência de diálogo naquela família.
Belchior canta sobre estar entre pessoas, mas sem realmente se sentir acompanhado. É a solidão no meio da multidão. Uma sensação que muitos de nós conhecem bem. A repetição dos versos reforça essa angústia, como se ele estivesse preso num ciclo que não se rompe.
O mais interessante é que a canção, lançada ainda no início da carreira, já antecipa a marca de Belchior. Traduzir em poesia aquilo que a vida comum muitas vezes esconde.
“Na hora do almoço”, nos convida a refletir sobre nossas relações, sobre a escuta e a presença verdadeira no cotidiano. Porque, no fim, a solidão maior não é de estar só em casa, é de não ser visto nem ouvido quando se está junto dos outros.