“Milton Bituca Nascimento” é um documentário que se debruça sob a grandeza da música do cantor. Ao longo dos anos, estudiosos e músicos tentaram entender qual é o gênero do artista, e a conclusão que se chega é que Milton Nascimento canta e toca Milton Nascimento – um tipo de arte única que nasceu da própria singularidade do seu ouvir.
Fernanda Montenegro conduz a estrada trilhada pelo filme, que passa pela turnê “A Última Sessão de Música”, que marcou o fim de sua trajetória nos palcos e por histórias compartilhadas pelo próprio cantor e por convidados.
A primeira parte do documentário convida o público a tentar entender a música do cantor, bem como ter um vislumbre da grandiosidade de sua arte. Nomes como Spike Lee, Caetano Veloso, Chico Buarque e Quincy Jones tentam explicar qual gênero Milton canta e compõe, chegando à mesma conclusão: não é jazz, não é bossa nova: é Milton Nascimento.
Milton é estudado em Berklee
Outros momentos endossam a grandiosidade do cantor quando visto de fora. Alunos estudando sua música na Universidade de Berklee, a maior faculdade de música do mundo; estrangeiros tentando cantar as canções do artista no maior “embromation” (algo que ficaríamos envergonhados em fazer lá fora); e a paixão de Esperanza Spalding pelo trabalho do brasileiro.
Essa parte do filme levam à uma reflexão sobre uma questão que não é certa e nem errada: ao mesmo tempo em que dá orgulho de ver a cultura brasileira sendo consumida, reverenciada e estudada lá fora, somos lembramos de que estamos sempre nos validando a partir da validação de um grupo de pessoas – mais especificamente, dos estadunidenses.
Seria interessante que a direção também incluísse o impacto da música de Milton nas universidades brasileiras, entre artistas do Brasil que produzem a partir de suas canções e a repercussão cultural que o cantor causou e ainda causa em nossas terras.
A Universidade Federal de Minas Gerais, por exemplo, tem uma disciplina sobre a música de Milton Nascimento ministrada pelo próprio produtor musical do cantor, o Wilson Lopes. Alguns minutos do documentário com esse tópico mostraria que a grandeza do cantor também pode ser vista a partir de nossa ótica.
Lado descontraído e contador de causos
O artista é capturado em um bate–papo descontraído com Os Gêmeos, dupla de grafiteiros de São Paulo, em que conta “causos” sobre sua música, seu processo criativo e até revela uma engraçada história com Elis Regina, a quem chama de “diva”. “Um dia ela chegou e falou: ‘Mineiro não tem educação? Eu dou bom dia, boa tarde e boa noite'”, relembrou Milton.
O filme nos abre as portas para momentos de um Milton leve e engraçado, aquele avô que conta histórias de sua juventude e se diverte relembrando de falas e momentos marcantes. Os depoimentos, tanto de Milton quanto de outros convidados, revelam curiosidades sobre a trajetória artística do cantor após deixar Três Pontas (MG) e chegar a São Paulo.
Flavia Moraes opta por não incluir imagens documentais, o que pode ser negativo para os momentos em que histórias são relembradas. Porém, como bem disse a diretora, trata-se de um “road movie” – dá para entender que a intenção documental, talvez, estivesse em registrar o momento presente das gravações e o que poderia sair delas.
A segunda parte do filme traz depoimentos de figuras negras importantes para a cultura brasileira, como Mano Brown, Criolo e Djonga. A reflexão deixada é sobre a quantidade de artistas do Brasil que não conseguiram o mesmo sucesso que Bituca, e leva a pensar sobre o quanto a cultura é, por vezes, subestimada.
“Milton Bituca Nascimento” é um longo registro sobre o cantor. Apesar de chegar a ser quase repetitivo nas temáticas, para os admiradores da música tão única de Milton, o documentário é um abraço e uma confirmação de que sim: ele é um dos maiores e mais únicos artistas de todos os tempos.
Confira o trailer do documentário, lançado nesta terça–feira (11/3):