Por Ludmila Souza
É oficial! A cantora e compositora mineira, Julia Deodora, lançou seu primeiro álbum, “Kadara”, nesta quinta-feira (20/3).
Como cantado em “Baobá”, carregando o reinado de seus antepassados, Julia Deodora se levanta na força de Nzinga. Nas 11 faixas do álbum, que misturam samba, mpb e experimentações sonoras, ela transita entre a ancestralidade, identidade negra, memória, afetos e a força dos caminhos .
O próprio nome do projeto, “Kadara”, termo do Iorubá que significa destino, é refletido no processo criativo da artista. “Eu não fazia ideia de que estava criando um álbum. Eu estava tão concentrada em mim, em colocar para fora tudo que eu sentia, que nem pensava nisso. Mas quando percebi, eu já tinha um conjunto de canções que se conectavam”, afirma a compositora.
Fazendo jus a ancestralidade evocada no álbum, Júlia enfatiza a composição de “Voltou a Pé”, canção inspirada em Valdilene dos Santos, sua mãe.
“Voltou a Pé é 100% minha mãe. Minha mãe criou eu e meu irmão sozinha, e ela era empregada doméstica. Eu lembro dela às vezes chegar em casa (desempregada) e a gente pensava, ‘ó, e agora?’. Mas logo depois ela já arranjava outro serviço. Então, eu entendo que ela nunca teve medo. Teve medo, mas sempre foi muito forte, por precisar ser forte”, conta.
A construção da obra como um todo passou por muitas mãos e mentes pretas, as quais Júlia fala orgulhosamente. “Cissa do Cavaco no cavaquinho, Eduardo Souza no trombone, Jayaram Marcio no violoncelo, Joãozinho Percussa na percussão, Valéria Santos na bateria, Yuri D’Paula no baixo, Luar e Ana Hillario no coro”, cita.
Trajetória artistística
A relação de Júlia com a música começou ainda quando criança. “Sempre fomos nós três. Minha mãe sempre colocava músicas para tocar em casa, e eu ficava fascinada pelo que ouvia. Era como se a música fosse um refúgio e, ao mesmo tempo, uma conexão com algo muito maior”, conta.
Aos 12 anos começou a tocar violão e se apaixonou de vez pela música. “Comecei um pouco sozinha, mas é aquele sozinha que você vai aprendendo com todo mundo. Você vê alguém fazendo e já fica de olho para fazer também. Tinha coisa de tocar na igreja”, detalha Julia.
A artista também aprofundou-se nos estudos de samba e começou a tocar violoncelo, até desembocar em suas primeiras composições, “Alumiô” e “Amoras Pretas”.
Em 2023, fez sua primeira apresentação na Mostra Periférica de Música de BH. Também já participou da Mostra Descontorno Cultural e da apresentação que ela considera ter sido o “divisor de águas” de sua carreira, o FAN 2024.
Agora, Júlia Deodora faz a apresentação de Kadara ao público, no Cine Theatro Brasil, no próximo sábado (22/3). Os ingressos já estão esgotados. “Fiquei meio em choque, quando eu fui vendo os ingressos acabando. Espero que as pessoas encontrem um pedaço de si em cada canção”