A conexão Minas Gerais–Bahia está presente no Carnaval de Belo Horizonte por meio de vários blocos. Cada vez mais consolidada na capital mineira, a festa tem como um de seus impulsionadores o Baianas Ozadas, que arrasta milhares de foliões todos os anos no Centro de BH. Para conversar sobre a folia e a respeito do bloco, o fundador Geo Ozado participou do Conecta Mente dessa segunda–feira (3/3).
Belo Horizonte teve um período em que a cidade ficava “às moscas” durante o Carnaval, antes do renascimento da folia nas ruas. Com o passar dos anos, o trabalho dos blocos e escolas de samba começou a evoluir, e a folia belo–horizontina tornou–se uma das maiores do Brasil.
Segundo Geo Ozado, BH teve um Carnaval forte na década de 1980, com o trabalho das escolas de samba, e que até competia com as festas do Rio de Janeiro e de São Paulo. “Acho que por uma infelicidade, por uma falta de cuidado do poder público, ele acabou”, disse o movimentador cultural.
Ele disse que a folia da capital mineira nasceu quase junto com a cidade. “Primeiro o bloco caricato, o bloco da cidade Diabos da Luneta, tem registrado na história uma pesquisa do Abílio Barreto, está lá no arquivo do museu, é datado de 1898. Então a cidade era um bebê”.
“Tinha os cursos, que começaram com as carroças, depois os carros, e os Diabos da Luneta concentravam na Praça da Liberdade, desciam a então avenida Liberdade, hoje a João Pinheiro. O Baianas fez esse trajeto desde 2013 a 2016, passando pela Afonso Pena, descendo até a Praça da Estação, que é o marco do Carnaval”.
Baianas Ozadas na profissionalização dos blocos
O reflorescimento da folia de rua belo–horizontina começou com um protesto promovido pelo coletivo Praia da Estação, em 2010. Para o movimentador cultural, uma série de fatores contribuiu para que o Carnaval ganhasse mais forças e chegasse no atual patamar.
“Eu acho que foi um processo, até um pouco solitário. Tem mais de 500 blocos pela cidade toda, mas são blocos diversos, são muitos carnavais dentro de um Carnaval. Você tem desde o bloco de bairro pequenininho, de uma reunião de amigos que querem ficar na rua deles, e há blocos que são grandes”.
Ele destacou o Baianas como um dos megablocos pioneiros de Belo Horizonte, e que tem um papel na profissionalização desses grupos em BH. “A gente veio com tema, com conceito para o Carnaval. Fomos um dos primeiros blocos de rua a ter um tema, desde 2013, trazer a discussão, regimentar tudo”, destacou.
“A gente se profissionalizou. Tivemos que colocar músicos profissionais dentro de uma banda, começamos a circular. Hoje, é uma das bandas que mais circula pelo Carnaval do interior de Minas, mais requisitada pelos prefeitos”, afirmou Geo.
‘Um Carnaval custa caro’
Para o movimentador, o Carnaval nascer político não significa que ele sobreviverá de uma luta política. “A gente respeita o que se diz ‘Carnaval de luta’, mas, muito antes, existe um Carnaval que é uma tradição da sociedade brasileira secular, que é um momento da população brasileira necessário de lazer, principalmente da população menos favorecida”.
“Quando a gente vai ocupar a rua, hoje com grandes blocos, com grandes estruturas que demandam um trio elétrico de um padrão como trios da Bahia, contratar músicos, produção, audiovisual, equipe de comunicação. Um Carnaval custa caro”, apontou.
O fundador do Baianas Ozadas ressaltou também o seu papel como um dos diretores da Liga Belo-horizontina de Blocos Carnavalescos. O coletivo conseguiu que o governo de Minas escutasse as dificuldades do Carnaval de BH, com o objetivo de construir políticas públicas para a festa.
“A gente ainda não tinha escuta no município, e se nós pensarmos ainda em cima de uma pandemia que parou tudo, os blocos ficaram dois anos sem acontecer. O que salvou os grandes blocos do Carnaval de Belo Horizonte – e muita gente não gosta de ouvir isso – foi essa política pública do Estado, trazendo Cemig e grandes patrocinadores”.
‘Não dá para colocar blocos no mesmo balaio’
Geo Ozado falou sobre o processo de crescimento do Baianas Ozadas, que surgiu como um projeto de banda iniciante e que se profissionalizou ao longo do processo. “E é bonito de perceber que os músicos que fizeram parte são amigos até hoje, como o Rodrigo Torino, que é um músico hoje da Orquestra Ouro Preto”.
“A partir do momento que um bloco se profissionaliza e mantém os bons músicos da cidade aqui para fazer o Caraval, isso dá um salto de qualidade. O cuidado tem que ser esse. Não dá para um poder público colocar todo mundo no mesmo balaio, porque não é. Uma banda como o Baianas Ozadas, como o Chama o Síndico, são blocos que hoje têm uma qualidade musical diferente”.
Questionado sobre como é gerir um empreendimento que está relacionado a uma festa, o movimentador cultural disse que o aspecto principal é o aprendizado. “Eu falo que o Carnaval de Belo Horizonte é um bebê, é muito novo esse renascimento. A Bahia está celebrando 75 anos de trio elétrico este ano”.
“É um processo de amadurecimento que a gente tem que profissionalizar a todo momento. Então, é gestão, nós aprendemos o tempo todo como se aprimorar. E as parcerias, como foram importantes. A gente teve que abrir uma produtora para pensar numa produtora para gerir um bloco como esse”, contou Geo.
Ao longo do bate–papo, Geo Ozado falou sobre como o Baianas Ozadas gera empregos, como ele vê o Carnaval do futuro, incluindo o apoio público e problemas ainda existentes, e compartilhou vários detalhes sobre a folia.
O episódio completo com toda a entrevista está disponível no nosso Spotify (ouça abaixo) e no canal de YouTube Multiprosa. Acompanhe trechos da conversa nas redes sociais da Rádio CDL FM.