Encontrei Seu Gervásio num ônibus, embarcando de volta para casa. Ele tinha ido ao médico, não perguntei a idade, mas parecia ter mais de 80 anos. Chapéu de palha, camisa social para dentro da calça e o cinto apertando uma cintura magra.
Contou que a neta iria com ele, mas acabou tendo um compromisso. Disse que não se importava de ir sozinho da sua cidade até o hospital, porque o ônibus para bem pertinho do hospital e ele não paga passagem.
Depois que a conversa engrenou, ele revelou uma mágoa. Disse que é um homem de fé e talvez por isso o diabo não goste dele. Eu não entendi de imediato. Ele explicou. Viveu e vive tantos desafios, tantas provações que acredita ser essa a maneira do diabo testar a sua fé.
Eu fiquei com aquela fala na mente. Achei forte, simbólica. Sentado na minha poltrona, julguei os filhos que não acompanhavam. Mas logo lembrei da correria do meu trabalho e percebi que posso não ser tão diferente assim dos filhos daquele homem.
Mas o importante é que eu reflita sobre as minhas relações. Eu sei do amor que tenho pela minha mãe e é por isso mesmo que eu sei que eu preciso estar mais presente.