No final do poema “A Flor e a Náusea”, Carlos Drummond de Andrade escreve: “Uma flor nasceu no asfalto. É feia, mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio”. Essa flor não é uma qualquer, é o próprio poema.
É a palavra poética que nasce onde não se espera beleza. No chão duro da cidade, em meio ao concreto da desesperança, da repressão, do caos, Drummond não romantiza o sofrimento. Ele diz que a flor é feia, mas mesmo assim, ela é flor, é palavra, é resistência. O poeta diz que esta flor fura a dureza do mundo, rompe a camada da indiferença, desafia o silêncio.
Num tempo marcado por guerras e opressões, já que ele escreveu o poema entre 1941 e 1945, a poesia se levanta como ato político e humano. E até hoje ainda é assim, porque em tempos de medo, de angústia, de perdas, escrever já é um modo de florescer. E isso também fica sendo um convite.