
Cada vez mais presente nas cidades brasileiras, o novo urbanismo é um conceito que cria comunidades mais sustentáveis, conectadas e acessíveis. Para falar sobre o tema, o Conecta Mente dessa segunda–feira (17/3) recebeu o arquiteto urbanista e gerente de projetos do Grupo EPO, Alexandre Simão.
A evolução das cidades inteligentes tem sido um tema bastante debatido. Para abrir o bate–papo, Simão listou os desafios enfrentados hoje pelas cidades dentro de um contexto globalizado: “São muitos. A gente que está sentado do lado de cá da cadeira trabalha com a legislação posta, não estamos na mesa para formatar”.
“A gente tem que seguir o que está posto, está aprovado, então esse já é um grande desafio. E o que nós vemos é que a legislação não acompanha essa velocidade de crescimento das cidades, desses novos pensamentos, dessa nova cultura, então talvez esse seja um dos outros grandes desafios”, disse Alexandre.
O arquiteto urbanista citou que as cidades, atualmente, são muito pensadas para os veículos, e essa formatação gera algumas dificuldades e problemas sociais. “Espraiamento das cidades, elas são todas muito espalhadas, os deslocamentos são longos, então, são desafios, não tem nada fácil”.
“Hoje, a gente tem inclusive trabalhado muito com o poder público, com as nossas associações, para estarmos juntos e sugerirmos algumas modificações que são importantes”, adicionou.
‘Cidades do futuro’
Questionado por que arquitetos e urbanistas costumavam desenhar as cidades do futuro sem pessoas e comércios, o gerente de projetos pontuou que, atualmente, tem ocorrido o movimento contrário: “Que é exatamente a retomada das pessoas no centro das decisões, a importância das pessoas, da cidade para a população”.
“Porque uma cidade sem essa vida na rua, sem essa vida dos espaços públicos, todo mundo trancado dentro do seu apartamento ou da sua casa, a cidade não acontece, morre em todos os sentidos, porque não tem consumo, enfim, não tem nada”, disse Simão.
Para Alexandre, existia uma corrente que vinha do urbanismo modernista e que pregava uma cidade sem pessoas nas ruas. “Mas é um contra-senso do que a gente pensa hoje, do que nós estamos colocando dentro desse novo urbanismo”.
“O novo urbanismo surgiu em 1980, nos Estados Unidos, propondo essas comunidades mais acessíveis, compactas, sustentáveis, em contraponto, inclusive, a esse urbanismo modernista, que são essas cidades espalhadas, pensadas para o carro. Então, esse contraponto é para trazer de novo as pessoas”, afirmou.
Conceitos do novo urbanismo
Segundo o arquiteto e urbanista, discute–se densidade de ocupação, diversidade de usos, usos sustentáveis e até fachadas ativas no comércio. “Hoje, existe um conceito dentro desse novo urbanismo que é a cidade caminhável, em 15 minutos você está no trabalho, você tem consumo, serviço”.
“É uma potência muito grande de transformação. Não é simples, de novo, a gente realmente esbarra em alguma questão de legislação porque ela não está pronta para receber isso, mas tem um caminho vindo”, disse Simão, otimista.
O gerente de projetos citou que o Centro de Belo Horizonte é rico em arquitetura e de espaços públicos, no entanto, o local está vazio e não tem ocupação. “Então morre, está morto, desocupado. Trazendo essa energia, essa ocupação, esse Centro tem muito potencial para poder reviver”.
Tempo é problema em comum
Simão pontuou uma questão que é igual para a maioria das pessoas: tempo. “Todo mundo tem a mesma quantidade de tempo por dia e, às vezes, não está na nossa mão a decisão do que fazer com esse tempo. Quando você entra num carro e não sabe que horas vai chegar no outro local, não tem o que fazer, às vezes você está preso no trânsito”.
“Então essa questão da proximidade, e mais do que a proximidade, a possibilidade de fazer isso a pé, ela vai no centro do que é esse novo urbanismo, que é trabalhar a melhoria da qualidade de vida das pessoas. Então sobrar tempo para fazer aquilo que é importante, aquilo que você quer ou aquilo que você gosta, é hoje uma das coisas mais importantes em qualquer centro urbano”.
Alexandre citou um caso feito pelo Grupo EPO no Vale do Sereno, em Nova Lima, Região Metropolitana de Belo Horizonte. “Era uma rua de veículos, a gente remodelou essa rua por completo, transformou em um espaço de convivência. Ela não é mais uma rua para carro ou para pedestre, é uma rua para pessoas”.
“As pessoas hoje moram nos bairros ou nas regiões ou nas cidades e elas não se sentem parte daquilo. Então, esse sair para fora do muro é uma questão fundamental, e aí é muito disso o que a gente trabalha”, declarou o arquiteto e urbanista.
Ao longo da entrevista, o gerente de projetos falou mais sobre o trabalho desenvolvido pelo Grupo EPO, além de falar sobre a relação com o poder público. O episódio completo está disponível no nosso Spotify (ouça abaixo) e no canal de YouTube Multiprosa. Acompanhe trechos da conversa nas redes sociais da Rádio CDL FM.