Um dos grandes nomes da arte contemporânea, Edgar Calel estreia a exposição “Ru Jub’ulik Achik – Aromas de Um Sonho” no Instituto Inhotim, com 15 obras que fazem uma ponte entre a Guatemala e Brumadinho, na Região Metropolitana de BH. A mostra ficará disponível para o público até 2027.
Essa é a primeira vez que o artista faz uma exposição individual no Brasil. As obras possuem profunda ligação com sua cidade natal, San Juan Comalapa, e a cultura maia, além de conectar o território vulcânico da Guatemala com as montanhas de minério de Minas Gerais. Mais do que isso, a exposição de Calel tem caráter comunitário, espiritual e político.
A mostra está disponível na Galeria Lago, local que recebe exposições temporárias, até 2027. “Calel nos convida a uma reflexão ampla sobre território, a partir da cosmovisão kaqchikel–maia”, disse a diretora artística do museu, Júlia Rebouças. A visitação no Inhotim custa R$ 30, com ingressos disponíveis neste link. Às quartas–feiras e no último domingo do mês, a entrada é gratuita.
“Nessa exposição nós estamos trazendo algumas paisagens da Guatemala, montanhas, pedras, cheiros, lugares cerimoniais, dos povos. Muitas das obras fazem referência à memória dos ancestrais, de luta, imagens dos guardiões, dos lugares, fachadas de paredes. Uma exposição na qual a terra é um dos eixos centrais”, disse Edgar Calel à Rádio CDL FM.
Exposição faz caminho para dentro de casa
O percurso da exposição começa do lado de fora da galeria, com uma pedra intitulada “O Dono do Tempo”. Com o formato de uma tartaruga, a rocha convida a uma reflexão sobre o que fazemos com o nosso próprio tempo. Para Edgar, as pedras carregam uma grande memória por poderem durar até bilhões de anos.
Na porta, uma lona que estampa o dizer “kitkitkit”, som que a avó do guatemalteco fazia para atrair pássaros para o quintal, a fim de comerem milho. A faixa pode ser interpretada como um convite a entrar na Galeria Lago e explorar o diálogo proposto pelo artista com suas criações, que giram em torno de memória, espiritualidade e tradições de seu país.
A primeira sala da exposição apresenta obras feitas com folhas, pedras, madeira e terra, elementos que testemunham cosmologias dos povos originários. Um dos destaques é a Kej-chi’ch’ (Veado de Metal), uma escultura que reproduz, em tamanho real, a caminhonete vermelha da família de Edgar Calel.

O veículo parece ter vida ao ser preenchido com 18 esculturas de pessoas, tanto dentro quanto fora da caminhonete, representando o que seria um dia típico no quintal de uma residência na Guatemala. Nas paredes, bordados de oito metros de comprimento feitos em colaboração com a família do artista também chamam a atenção.
‘Entrar para dentro’
Após passar pelo “quintal” do universo de Calel, o público é convidado a entrar um pouco mais e ter contato com o ateliê–casa de Edgar em San Juan Comalapa, espaço de convívio e criação com seus familiares. O local é um verdadeiro altar repleto de velas que evocam rezas, oferendas e as crenças que ele carrega em relação ao fogo.
“Nessa exposição apresento trabalhos que surgem da experiência e da convivência que tive com minha avó durante a infância. Muitas obras vêm de memórias: de sons, de cantos, de rezas nas montanhas, de oferendas, de imaginar mover uma pedra no ar, ou de perceber um avô ou uma avó na forma de pedra”, disse o artista.
Parte das obras foram produzidas fora do ateliê do guatemalteco, pela primeira vez. A confecção da exposição exigiu um intercâmbio entre a Guatemala e Brumadinho, com viagens tanto de Calel quanto da equipe do Inhotim. Um ponto interessante desse processo foi que colaboradores do museu participaram como modelos para construir os moldes da escultura Veado de metal.

Ao todo, doze trabalhos foram construídos especialmente para o Inhotim, e outros três já existiam no acervo de Edgar e entraram na exposição.
As obras carregam os seguintes nomes: Canto visual para nosso espírito; Cura sobre as montanhas; Embalar seu espírito; Sou um pedaço de osso; Três sementes, três milhos, três pedras; Profundo Abismo; Avó, avô, estamos aqui diante de ti; Veado de metal; Parede de Terra Fértil; Casa grande Kaqchikel; Lugar sagrado para não esquecer; Mulher Terra, Jaguar Pessoa Completa; Oferendas para as avós e avôs e Me protegeram com a essência do fogo / me cobriram de cinzas para me proteger.
Ru Jub’ulik Achik’ – Aromas de um sonho
Data: até 2027
Horário de visitação: quarta a sexta–feira, 9h30 às 16h30 | Sábado, domingo e feriado, 9h30 às 17h30 (em janeiro e julho funciona também às terças–feiras, de 9h30 às 16h30)
Local: Instituto Inhotim | Rua B, 20 – Inhotim, Brumadinho
Ingressos: https://www.inhotim.org.br/visite/