A Netflix lançou a terceira temporada da série Monster, desta vez focada em um dos criminosos mais perturbadores da história americana: Ed Gein, conhecido como “O Açougueiro de Plainfield”. Interpretado por Charlie Hunnam, o assassino que inspirou personagens icônicos como Norman Bates (Psycho) e Leatherface (O Massacre da Serra Elétrica) tem sua trajetória contada com detalhes na produção Monster: The Ed Gein Story, disponível na plataforma desde o final de setembro.
Quem foi Ed Gein?
Ed Gein viveu em Plainfield, Wisconsin, e é oficialmente acusado de dois homicídios: Bernice Worden e Mary Hogan. Apesar do número relativamente pequeno de vítimas fatais, o que realmente chamou atenção das autoridades na época foram os objetos macabros encontrados em sua casa, feitos a partir de corpos humanos exumados de cemitérios da região.
Entre os itens descobertos pela polícia estavam:
- Máscaras feitas de pele humana
- Tigelas feitas de crânios
- Um “traje feminino” feito de pele retirada de cadáveres
- Corações e outros órgãos guardados em recipientes
- Um cinto confeccionado com mamilos humanos
As investigações revelaram que Gein fazia visitas noturnas a cemitérios locais para desenterrar corpos de mulheres que se pareciam com sua mãe — figura central em sua formação psicológica. Ele mantinha os cômodos usados por ela trancados e intocados, enquanto vivia em completa degradação no restante da casa.
Gein matou o próprio irmão?
Uma dúvida que voltou a ganhar destaque com a série é se Ed Gein teria assassinado o próprio irmão, Henry Gein. Em 1944, Henry morreu durante um incêndio na propriedade da família. À época, a morte foi atribuída a causas acidentais, mas posteriormente levantou-se a hipótese de que Ed o teria matado após uma discussão sobre sua mãe. No entanto, ele nunca foi formalmente acusado pelo crime.
Essa especulação é abordada na série da Netflix, que mistura elementos documentais e dramatizados para construir a narrativa do personagem.
A série e a recepção crítica
Na série, Hunnam perdeu 30 quilos para interpretar Gein e mergulhou nos traumas psicológicos do personagem, incluindo a relação abusiva com a mãe, que o teria moldado emocionalmente. “Ele era frágil, isolado, desnutrido. Tentei entender a dor que carregava”, disse o ator em entrevista à People.
Apesar do esforço do elenco, a crítica especializada não poupou o tom da produção. A jornalista Lucy Mangan, do The Guardian, classificou a série como “uma obra sem dimensão moral” que “pandeia à curiosidade mórbida do público” ao explorar os crimes com um olhar fetichista, sem reflexão sobre as vítimas ou os danos causados.
A crítica também questiona a glamurização da violência e o apelo constante ao voyeurismo. “Monster quer mostrar os horrores do assassino, mas corre o risco de replicar o olhar objetificante do próprio criminoso”, afirmou a pesquisadora Laurel Ahnert, especialista em comunicação e cultura do crime.
De volta à pergunta: monstros nascem ou são criados?
A série revive o eterno debate sobre a origem do mal: Ed Gein foi produto de um ambiente abusivo ou já nasceu com tendências violentas? Para o criminologista James Alan Fox, “ninguém nasce assassino, mas há propensões que, combinadas com traumas, podem levar a atos extremos.”
Apesar das polêmicas, Monster: The Ed Gein Story já figura entre os conteúdos mais assistidos da Netflix e trouxe novamente ao debate público os limites éticos da ficcionalização do crime real.