Em um cantinho escondido entre as montanhas da grande BH, vive Dona Geralda. Uma senhora de 92 anos que acorda antes do dia clarear, passa café no coador de pano e ainda corta a lenha com as próprias mãos. No sítio onde mora “sozinha, mas nunca solitária”, como diz ela, tudo tem alma. Da casa de adobe ao bule esmaltado.
Ela não cozinha para vender, cozinha para acolher. Serve quitandas com afeto e um café adoçado para além da conta, “para tirar o amargor da vida”, diz ela, rindo com os olhos. Quando perguntei se não sentia medo vivendo tão afastada, respondeu tranquila: “Medo a gente vai perdendo com o tempo, meu filho. O que sobra com a ajuda de Deus é só a coragem”.
E quando insisti, ela completou: “Sofrer por coisa que nem chegou é gastar tempo que podia ser de viver”.
Dona Geralda não tem pressa, o tempo ali não corre, ele amadurece e talvez no meio de tanta correria nossa, a gente só precise disso, um café passado na hora, um pedaço de doce ofertado com carinho, olhares que não julgam, mas acolhem e a sabedoria de quem aprendeu a viver o agora.