O diagnóstico daquela doença inominável chegou como uma bomba. O pai daquela moça já é idoso, está fraco e não vai dar conta de uma quimioterapia, pensavam os filhos numa reunião de família. Ele se apegou a alguns santos, tem recebido carinho de tanta gente que o liga e disse estar feliz com o tanto de orações que está recebendo.
Está tomando os medicamentos para ganhar energia, mas fala da morte com um pouco de receio, com medo de ofender os filhos. Na verdade, ninguém ali nunca falou sobre a morte, a não ser no dia em que ela encontrava algum parente ou conhecido.
A finitude é natural, mas é difícil admiti-la. Pensamos nela nos outros, não nos nossos. Aquele senhor ensaiou o assunto, mas os filhos desconversaram.
Ele sente que está perto, mas ninguém consegue ouvi-lo e isso dói em todos. Eu comecei a ler o livro “Todo mar vai ser você”, da mineira Glaura Santos, que fala sobre a morte do seu marido. Ele é poético e, por isso, não menospreza a dor.
“Uma morte muito suave”, de Simone de Beauvoir, também é uma boa escolha. E não é à toa que “A morte é um dia que vale a pena viver”, da médica Ana Cláudia Arantes, foi um dos livros mais vendidos na Bienal de São Paulo em 2024.