Dona Abigail está há dez anos numa instituição para idosos. Chegou lá depois que os vizinhos a levaram até o CRAS do bairro onde vivia. Estava sozinha, abandonada por todos. Já tinha perdido a independência e agora a autonomia também começava a se desfazer.
Dois meses depois de sua chegada, ela já sorria de novo. Os visitantes que iam ver outras senhoras — suas mães, tias, avós — passaram a incluir Dona Abigail nos encontros. Era só um tempinho, um gesto, uma escuta mas era um tempo bem aproveitado por ela. Voluntários também chegavam com jogos e, aos poucos, ela foi melhorando a coordenação motora. A vida voltava, devagarinho.
Num desses domingos, fizemos bingo. E lá estava ela, com a caneta na mão, concentrada, marcando os números. No nosso bingo, todos ganham. A gente até direciona as pedrinhas que faltam para que isso aconteça.
Na hora de ir embora, recolhemos as canetas e as cartelas usadas. E atrás da cartela de Dona Abigail, havia uma frase, escrita em letra trêmula, mas firme no sentido: “Sou grata.”
Depois de muito tempo, foi isso que ela escreveu. “Sou grata”.