Fundada em 1914, a Cruz Vermelha Brasileira Afiliada Minas Gerais celebra 111 anos de atuação com uma nova sede no bairro Gameleira, em Belo Horizonte, e a ampliação de programas sociais e humanitários. Reconhecida pela atuação em situações de emergência e desastres naturais, a instituição se destaca por iniciativas relacionadas à saúde pública, assistência social e capacitação profissional.
O CEO da afiliada mineira, Bernardo Eliazar participa do programa Rádio Café, em entrevista ao colunista Paulo Leite. O diretor executivo falou sobre as ações humanitárias e sociais da Cruz Vermelha MG, sobre o processo de modernização da instituição e sobre a nova sede na região Oeste de BH.
Segundo o CEO, a Cruz Vermelha nasceu com a missão de formar enfermeiras para atuar na Segunda Guerra Mundial, mantendo por décadas uma escola de enfermagem. Hoje, é uma instituição filantrópica de utilidade pública federal, com o título de Cebas (Certificação de Entidades Beneficentes de Assistência Social).
Confira a entrevista de Eliazar na íntegra
Nessa história toda, nesse tempo todo, nesse mais que século já agindo, é muito interessante saber de histórias, de ações. Conta um pouquinho dessa trajetória da Cruz Vermelha Afiliada Minas Gerais.
Fomos criados há 111 anos para poder formar enfermeiras para a Segunda Guerra. Esse foi o nosso propósito. Então tivemos a escola de enfermagem até alguns anos atrás, e essa formação se perdurou durante muito tempo, era o nosso propósito, tanto que a nossa última enfermeira formada aqui em Minas que foi para a Segunda Guerra faleceu tem uns 6 anos. Então, a Cruz Vermelha nasceu disso. Hoje, nós somos uma instituição filantrópica, de suporte às forças do Estado. Uma instituição de utilidade pública federal e que a gente tem hoje o Cebas, uma instituição filantrópica. Então, a gente tem as ações humanitárias e a parte social, que é o impacto que a gente causa regularmente, todos os dias, aqui em Minas Gerais.
Quando se pensa na Cruz Vermelha, se pensa em saúde, no resgate, no socorrismo, o símbolo da Cruz Vermelha é quase que uma marca de ajuda nessas áreas. Mas, aqui em Minas, ela atua em outras frentes também.
É, somos tudo isso e mais alguma coisa. A gente tem a parte da ação humanitária, a parte do primeiros socorros, que é a nossa base, e em Minas a gente tem vários programas sociais. Então, formamos menor aprendiz, adolescente trabalhador, formamos cuidadores de idosos de maneira gratuita. Ano passado recebemos um prêmio da BRH do nosso cuidador de criança com espectro autista, também para o público de vulnerabilidade é uma entrega gratuita. Então, fazemos muitas coisas ao longo do ano, que não só a ajuda humanitária.
Você começou como voluntário na Cruz Vermelha.
Já tenho completos 17 anos.
17 anos dentro da Cruz Vermelha. Provavelmente tem alguma história marcante no longo desses anos. Conta para a gente.
As chuvas sempre são partes que marcam muito, porque a gente vê muitas pessoas perdendo tudo nesse momento. Mas, não tem como a gente passar sem falar de Mariana e Brumadinho, que foram dois momentos que marcaram muito a instituição, que ela agiu ali de pronto atendimento, e foram situações em que a gente acabou crescendo uma equipe de pronta resposta dentro da instituição para isso. E foi um momento em que a gente conseguiu se aproximar muito do acontecido, do evento, junto ao Estado, naquele momento de comoção ali, que foi nacional.
Casa nova, vida nova. Conta um pouquinho da importância dessa conquista da casa nova e em que ela pode ampliar as ações da Cruz Vermelha.
A gente vem num contexto em que a nossa sede é uma sede própria, que estava atrás ali do Parque Municipal, ao lado do Hospital Semper. E ela também foi locada para Faculdade de Ciências Médicas, que também estava alinhada ao nosso propósito. Ali saiu um hospital–escola 100% SUS para oncologia da Feluma e que conversa muito com o que a gente faz. A gente entende essa necessidade para o município, inclusive. Então, a gente alugou um prédio, que é ali atrás da Gameleira, que era uma faculdade de engenharia, e esse prédio acabou disponibilizando para a gente uma área útil, um pouco menor do que a que existia, mas muito mais bem dividida. Então, hoje, a gente consegue ter todas as nossas atividades ali e conseguimos ter acesso, ter um galpão, coisa que no Centro era sempre com um pouco de dificuldade. Ficou, ali, bem mais fácil para a gente a mobilidade.
O terceiro setor vai se profissionalizando. Antigamente, era muito conhecido pelo improviso, pela ação de conjunto, voluntariado, mas hoje, cada vez mais, o terceiro setor se aproxima do setor privado, do setor governamental, com quem já tem uma relação mais antiga. Como é que você vê todo esse movimento de profissionalização, de crescimento do terceiro setor, e como é que a Cruz Vermelha se articula para entender melhor essas relações?
Paulo, é um tema muito interessante, porque acho que esse estigma do terceiro setor foi criado de fato pela postura das instituições ao longo do tempo. E como eu te falei, eu assumi tem dois anos a cadeira de CEO e o profissionalismo foi uma coisa que a gente trouxe. Então, a Fundação Dom Cabral veio junto, a gente começou a construir indicadores, a gente é auditado externamente – nós temos hoje a auditoria da BDO, que é uma auditoria muito respeitada. Fizemos um papel no compliance e na governança também, bem forte, ao longo desses anos. Então, hoje, a Cruz Vermelha de Minas é destaque nisso no Brasil. A gente tem um canal de denúncia, é difícil achar um terceiro setor que tenha isso. Então, a gente trabalha muito com a profissionalização da instituição, porque a gente entende que a nossa ineficiência impacta mais que uma ineficiência numa indústria. Uma indústria é um produto que sai errado. Na nossa são vidas que a gente deixa de impactar. Então, a gente tem buscado cada vez mais indicadores, transparência, e que a gente consiga cada vez mais mudar todos aqueles que são responsáveis por gestão de instituições de terceiro setor, trazer esse profissionalismo para a gente começar a mudar muito essa visão que existe por conta de um passado que foi criado, não só de corrupção, mas de desorganização, de desordem e de pedir dinheiro. Eu acho que a gente hoje, como Cruz Vermelha, nós não estamos mais nesse papel de pedir dinheiro. Hoje, a gente quer transformar vidas e de uma forma que ela consiga caminhar sozinha depois, não com assistencialismo constante. Eu acredito que a gente tem que conseguir ensinar isso e a gente faz isso com os nossos menores, com o nosso público, para que ele consiga alçar novos voos longe da instituição, criando uma vida nova, um horizonte melhor do que ele tem hoje.
Processo completo. Entra, se transforma e está pronto para sair.
É, tem que ser começo, meio e fim, porque se não a gente só fica sempre numa fase do processo, você não completa um ciclo e a gente nunca vai conseguir prosperar diante disso.
Cartão humanitário é uma novidade que a afiliada Minas Gerais está usando. Conta para a gente que história é essa de cartão humanitário?
Na verdade, o cartão é uma novidade mais ou menos, porque já tem 4 para 5 anos que a gente trata o cartão humanitário. Veio uma grande enchente em Minas, e nessa grande enchente, a gente atendeu uma cidade de baixo IDH, que 60% dela tinha sido atingida. E aí, voltei lá depois de 4 meses, achando que o que a gente tinha feito tinha sido maravilhoso. Entregamos cesta básica, alimento e higiene por 3 meses para aquela população. E aí, com essa ação, acabou que a gente quebrou dois estabelecimentos comerciais, porque a população não tinha demanda para comprar porque ‘elas já tinham recebido tudo aquilo’. Isso aí gera desemprego, gera um desequilíbrio. Então, a gente foi no Panamá, onde fica a central da Federação da Cruz Vermelha aqui nas Américas, entendemos como que funciona, onde a cadeia de suprimentos está de pé, porém sofreu uma catástrofe aquele município. E eles nos apresentaram o cartão humanitário. Nós trouxemos para Minas o cartão humanitário, fizemos um piloto, funcionou, e aí começamos a implementar na instituição. Ao invés de eu levar uma cesta básica, que eu tenho custo de logística, de transporte, perda, eu consigo colocar aquele crédito em um cartão e esse cartão é consumido no mercado local. Você aumenta a dignidade, porque a pessoa pode escolher o que ela precisa e não receber aquilo que eu quero entregar – faz mais sentido. Além de você garantir emprego, recolhe tributo, o município vai acabar recolhendo o tributo, gera um processo econômico para você poder fazer aquele município voltar à normalidade. E no meio dessa história, a gente conseguiu dar mais um passo. Quando você fala de governança, a gente conseguiu agora auditar uma ação específica. Então, a gente conseguiu auditar o SOS Chuvas, porque eu tenho lá o CPF de todas as pessoas que receberam, a gente tem os cartões que foram creditados, a conta que foi aberta específica para isso, e com isso, a gente ganha um aumento na transparência no recebimento daquela doação. E aí, a gente conseguiu mostrar que o benefício para quem está recebendo é muito maior com ele recebendo um cartão que ele consegue, além de escolher, proporcionar todo esse ciclo virtuoso na economia local.
Você está falando de angariar fundos, que talvez seja o grande desafio do terceiro terceiro setor – angariar donativos, fundos, recursos, mais do que donativos, recursos. Como é que isso acontece hoje na Cruz Vermelha?
A gente entende também, Paulo, que como toda instituição, toda empresa, todo CNPJ, ela tem que ter uma sustentabilidade. Então, a Cruz Vermelha hoje é autossustentável. Então, como que a gente opera hoje? Hoje, a gente tem produtos e serviços. Então, aquela empresa que contrata o menor aprendiz, o adolescente trabalhador da Cruz Vermelha participa de todo esse impacto social, porque somos uma instituição do Cebas. Então, a gente não tem distribuição de lucros. Então, a gente consegue movimentar. Temos os cursos de primeiros socorros, temos as palestras, temos a loja da Cruz Vermelha. Então, tudo isso fomenta a nossa operação, a nossa parte administrativa, todo esse staff que trabalha diariamente. Quando existe uma catástrofe, a gente abre uma conta específica para receber essa orientação que a gente recebeu, não só da auditoria, do Ministério Público Estadual, a gente abre essa conta, recebe todos os recursos, aplica e faz essa prestação de contas. Então, hoje, a gente tem um indicador que foi criado também, que a gente consegue apurar em torno de 80 a 86% de todo recurso aplicado numa ação específica. Ela chega na ponta e a gente garante isso através de uma auditoria. Então, isso facilitou esse fluxo nosso. Somos sustentáveis e precisamos desse apoio sempre para a gente aumentar e escalar a nossa entrega.
Mais de um século, como é que você vê o próximo século?
O nosso planejamento e o planejamento da própria federação – e eu acho que é o que hoje é muito falado – a gente vê às vezes o mundo internacional, e que não é muito diferente do que o Brasil passa, essas situações climáticas, e isso gera muito impacto no que a gente vê da população moradora de áreas de risco. Então, a gente vê que a falta de água, ou, às vezes, o excesso de água, vai ser um grande desafio nos próximos tempos. Então, quando a gente fala sobre o ISG, a gente entende que é um tema relevante, que isso tem que ser um tema que tem que gerar receita para as empresas, e essa receita tem que ser alocada no coletivo para que a gente consiga prosperar, mas de uma maneira que faça muito sentido para o todo, tanto para a empresa, quanto para o público atingido. Então, a gente fica no meio desse caminho executando essa missão, que não é uma missão muito fácil. Então, a gente vê sim conflitos, a gente vê questão de pobreza, segurança alimentar, a gente vê um futuro com essa questão do ambiental sendo uma coisa muito impactante.
Eu acho que quem nos ouviu deve estar perguntando: “como é que eu faço para doar, para fazer parceria, para ser voluntário da Cruz Vermelha?”.
Antes de qualquer doação, eu peço para que a pessoa entre no nosso Instagram, entre no nosso site, vê o que a gente faz, vê as nossas entregas, vê a seriedade da instituição. E aí, depois, se ela quiser somar e participar com isso, é sempre bem-vindo. Através do nosso site, ela consegue clicar, através do cartão de crédito, da forma que ela achar melhor, o valor que ela achar que é relevante para ela, ela pode participar, ela vai se cadastrar e ela se torna um doador. E aí, Paulo, não só interessante a questão da doação, que a gente às vezes quando fala em doação pensa em dinheiro. Mas, a Cruz Vermelha hoje é o maior e mais antigo movimento que possui o voluntariado. Então, também, o tempo das pessoas. Entra no nosso site, tem um processo para você se tornar voluntário, em que você entende o que é a organização, o que pode, o que não pode fazer com a marca da Cruz Vermelha, se torna voluntário fazendo aquilo que você pode fazer ou está disposto a fazer no seu tempo. É óbvio, dentro das regras da instituição, e venha somar com a gente, porque o tempo também é um recurso. Então, o voluntário também é muito importante para nós.
Então, conta para a gente aí qual é o Instagram.
Cruz Vermelha Brasileira MG. Nos acesse e nos acompanhe lá.