Circula na internet nesse mês das mães um vídeo que me acertou como um tiro de canhão no peito. Nele, uma senhora de 98 anos, cabelos brancos, rosto marcado pelo tempo, pelo envelhecimento, veste uma blusa simples que aquece um corpo magro. O olhar, ah, o olhar é de uma dor que não precisa de legenda. Alguém pergunta a ela quantos filhos tem, ela responde cinco. Então recita um poema escrito por ela mesma.
A voz é pausada, frágil e em um desses versos, a frase que me desmoronou (foram várias, mas essa…) “não tem lugar para mim na casa dos meus filhos”. Ela está no lar de idosos e a poesia árida como um chão rachado, parece uma travessia por prego. Cada palavra crava algo na gente.
Não sei se aquela senhora foi de fato esquecida, não sei o contexto, nem sei se era certo filmar, expor tanto assim. Mas confesso, isso não importa agora. O que importa é que o vídeo desperta. São centenas de mulheres comentando, se reconhecendo na dor e eu, do outro lado da tela, só lembrando naquele dia. Dia das Mães, que eu queria abraçar minha mãe. Dizer de novo o que já disse e quem sabe o que ainda não tive coragem de dizer.
Porque, às vezes, é preciso uma poesia doída para lembrar da beleza e da urgência do afeto.