Vamos combinar a partir de agora, nunca mais alguém vai chegar para mim e dizer que viu ou mesmo que fez um projeto confortável, atemporal e único. Palavras que a gente vê em qualquer texto que descreve uma casa, uma sala ou um escritório, por exemplo.
Bom, vamos começar pelo confortável e único. Gente, fala sério: alguém pensa em fazer um projeto que não seja único e confortável? Então pode descartar esses adjetivos, né? Já deu.
Agora chegamos no famigerado termo atemporal. Hum, vamos lá. Primeiro vamos dar um Google, tá lá: atemporal é um adjetivo usado para qualificar algo ou alguém que não é afetado pelo passar do tempo.
Ou seja, que não faz parte de qualquer época ou tempo, entendeu? Espera aí que você já vai entender.
Na arquitetura, como é que se cria um espaço que não sofra afetação de tendências nenhuma? Que seja antes e ao mesmo tempo depois do seu próprio tempo? Que não seja moderno, mas que não seja vintage? Que não seja contemporâneo e nem neoclássico? Que seja tudo e o nada? Que tenha referências, mas que não tenha nenhuma? E que fale por si só através de todos os tempos e sua própria linguagem?
Eu vou facilitar a pergunta: como usar o termo atemporal, mesmo tendo sofrido claramente com as tendências do nosso tempo ou do que se imagina do futuro ou do que foi o passado?
Acho importante a gente procurar se livrar desses termos, seja na arquitetura, nas artes ou no âmbito da música. Temos que admitir que os projetos são sim temporais. Eu estou falando dos projetos que são potentes, que chegam sabendo o que querem e sim que querem marcar uma geração. Afinal, o ser humano é incoerente por natureza.
Muitas vezes o que se determina ser atemporal hoje pode não ser atemporal amanhã. E depois de amanhã pode voltar a ser, ou seja, é atemporal coisa nenhuma, é isso.
Esse texto não tem inspiração total em um texto publicado pela querida Sheyla Cristina, a primeira arquiteta drag queen da América Latina.
E a coluna dela une conteúdos sobre arquitetura e decoração com lifestyle com muita perspicácia. Obrigada, Sheyla.
Nunca mais eu escrevo atemporal nos meus textos. Mas eu vou voltar nesse assunto, pode esperar.
