O CCBB BH vai estrear a exposição gratuita “Flávio Cerqueira – Um Escultor de Significados”, no dia 12 de março. Serão cerca de 40 obras de escultura em bronze distribuídas pelo espaço, a maioria exibida pela primeira vez em Belo Horizonte. A exposição é inspirada no cotidiano do brasileiro comum.
O destaque das obras de Flávio Cerqueira estão no material utilizado: o bronze. O mesmo item que foi reservado, durante muitos anos, a figuras proeminentes e elites, exalta, por meio das esculturas do artista, cenas do cotidiano brasileiro – uma menina sonhadora, um garoto distraído.
As obras de Flávio Cerqueira não deixam de fazer um paralelo com as angústias que rondam o imaginário coletivo, como questões de classe identidade e raça. A exposição ficará disponível no térreo no hall e nos espaços de circulação do CCBB BH, até o dia 2 de junho. Para visitar, é necessário retirar ingressos no site ou na bilheteria do local.
Arte de Flávio Cerqueira
Flávio Cerqueira é considerado um nome importante no panorama da arte contemporânea, com obras emblemáticas distribuídas em museus do Brasil e do exterior. O artista é reconhecido por sua primorosa técnica e originalidade. A mostra no Centro Cultural de Belo Horizonte teve a curadoria de Lilia Schwarcz.
“Ele retoma a tradição da cultura figurativa presente nas esculturas e a traduz no sentido de incluir nela uma outra tradição”, declarou a curadora.
Em seu trabalho, Cerqueira busca romper as fronteiras entre as obras e o espectador, convidando-o a dar significados para elas. “De dentro do transporte público, ele anota traços, repara nas roupas, radiografa suas ocupações. Como costuma dizer: ‘faz figuras escultóricas com o cara do bar, do buzão’. Porém, ele não cria retratos, cria personagens fictícios”, explica Schwarcz.
De acordo com Lilia, o artista vê a escultura como um instante pausado do filme. “É repertório de vida que ele começa a narrar, mas é o espectador quem coloca sentido e cria o ponto final. Todos são, assim, coautores de significados”.
‘Não é um trabalho panfletário’
Segundo Flávio, suas esculturas não possuem um viés documental ou de denúncia, embora perpassem questões sociais. “Não é um trabalho panfletário”, disse Cerqueira. “São narrativas que dialogam com a esperança, com as possibilidades, propõem uma pausa no tempo”, acrescentou.
A curadora destaca que, mesmo que as obras falem de marginalidade (no sentido de retratar pessoas que ficam à margem), Flávio não as classifica como vítimas. “Há algo de sempre elevado nas figuras que Flávio Cerqueira cria. São personagens representados de maneira altiva, com respeito, quase de maneira filosófica”.
Exposição dividida em núcleos
A exposição de Flávio Cerqueira no CCBB BH tem cinco núcleos, que se propõem a passear pelas diversas histórias de vida que inspiram o artista, desde narrativas autobiográficas até a observação do outro.
1. “Labirinto da memória” apresenta obras inspiradas no próprio artista, como “Iceberg” (2012) e “Ninguém nunca esquece” (2014).
Para Flávio, Iceberg é a escultura mais autobiográfica de seu conjunto de trabalhos. “Desde quando a produzi, penso o meu trabalho como momentos congelados de uma história, um desejo de pausar um instante vivido e usufruir dele, nem que seja por mais uma única vez”, declarou.
2. “Um caminho sem volta” aborda, de maneira intimista, a relação de Cerqueira com a educação. “Nasci em uma família de poucas posses materiais, mas me lembro de uma coleção da enciclopédia Barsa que ficava empilhada na casa em que cresci”.
“Segundo minha mãe, o conhecimento seria o bem mais precioso que eu poderia conquistar em vida, e, ao contrário dos bens materiais, este jamais me seria roubado. Muito embora algumas vezes ele seja negado ou negociado… Assim, o livro é um objeto recorrente na minha produção”, explicou o artista.
3. O núcleo “Histórias – as minhas histórias, as nossas…” reúne o maior número de esculturas, entre elas “Amnésia” (2015), “Tião” (2017), “Em memória de mim” (2017), “Onde tudo acaba em mim” (2021) e “Desenho Cego” (2024).
De acordo com Flávio, esses trabalhos dialogam com a transversalidade de histórias dele e das pessoas que o inspiraram. “Esta sala é um convite para conhecer algumas histórias – as minhas, as nossas histórias”, afirmou Cerqueira.
4. “O jardim das utopias” é um núcleo pensado para áreas abertas e explora, de diversas formas, a escala dos trabalhos e outros elementos na escultura, como plantas, água e vidros. O conjunto de obras é motivado pela busca por uma mudança do eu e pelo desejo de criar um lugar imaginário.
5. O percurso da exposição termina no núcleo “O processo é lento”, que aborda as etapas de criação das esculturas de Flávio. “Lembro-me de um professor me dizendo que uma ideia não executada é apenas uma ideia. E, sem sombra de dúvida, uma das coisas que mais me fascinam em ser artista é o fazer e todos os processos aí envolvidos, por mais demorados que sejam”.
Flávio Cerqueira – Um Escultor de Significados
Data: 12 de março a 2 de junho
Horário: quarta a segunda–feira, de 10h às 22h
Local: CCBB BH | Praça da Liberdade, 450 – Funcionários (galerias do térreo, hall e espaços de circulação)
Ingressos gratuitos: https://ccbb.com.br/belo-horizonte/bh-programacao/ e na bilheteria