A AML (Academia Mineira de Letras) fará uma exposição gratuita em homenagem ao jubileu da morte do multiartista mineiro Pedro Moraleida, a partir deste sábado (22/2), em BH. “O Grito de Pedro Moraleida” explora a obra textual do artista, que mergulhou em poderosas referências para produzir seu trabalho.
Com curadoria da professora e pesquisadora Vera CasaNova e da gestora cultural Inês Rabelo, a exposição homenageia os 25 anos de morte de Moraleida com obras inéditas, sendo uma mostra para leitura. Ficarão expostos manifestos, reflexões, poesias, listas de músicas e filmes e estruturas de referências que Pedro utilizou para suas produções.
Além da produção textual, “O Grito de Pedro Moraleida” trará três obras inéditas em Belo Horizonte, da série “Desenhos com Letras”, e duas pinturas que nunca estiveram em exposições. A mostra ficará disponível na sede da AML, a partir das 10h, até o dia 5 de abril. Na abertura, haverá uma performance do Grupo Oficina Multimédia.
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‘Trabalho duro de rastreamento’
“O texto de Pedro, muitas vezes, parece ser de uma atualidade que nos desnorteou. Ele é muito agressivo, muito violento, mas porque essa é a realidade que ele via e que ele ouvia. Ou seja, precisávamos de uma crítica tão violenta quanto. Esse foi um trabalho duro de rastreamento das questões que ele levanta e dos seus textos manuscritos”, disse uma das curadoras, Vera CasaNova.
Ela também apontou os desafios de trabalhar com os textos do mineiro para uma exposição como essa: “Trabalhar com textos manuscritos, textos rabiscados, desenhados, redesenhados, restos de texto, textos que se repetem, isso faz do texto, propriamente dito, o que Jacques Derrida chama de ‘subjétil'”.
Considerando a complexidade do material, “O Grito de Pedro Moraleida” também é uma oportunidade para que pesquisadores mergulhem na obra literária e textual do multiartista, que se mostra fértil para pesquisas e reflexões sobre suas facetas. Visitas em grupo para professores devem ser agendadas neste link.
Sobre Pedro Moraleida
Pedro Moraleida Bernardes (1977-1999), apesar de sua trajetória precocemente interrompida aos 22 anos, deixou um legado artístico vasto e multifacetado. Sua obra reflete uma visão singular da arte, expressa em textos pessoais nos quais ele discute o papel do artista e a natureza do fazer artístico.
Estudante da Escola de Belas Artes da UFMG, produziu um acervo que inclui cerca de 450 pinturas (em técnicas como óleo, acrílica, guache, grafite e colagens, sobre suportes variados como papel, madeira, tecido e metal), 1.450 desenhos (incluindo quadrinhos, cartoons e até radiografias), mais de 450 textos (poesias, manifestos, contos e reflexões sobre arte e existência) e 120 experimentações sonoras.
O acervo de Moraleida destaca-se não apenas pelo volume e diversidade, mas pela originalidade, consistência e engajamento com questões humanas e sociais. Em um contexto em que a pintura era considerada “morta” e a arte tendia à neutralidade, sua produção ousada e polêmica contrastava com as tendências dominantes nas artes plásticas de Minas Gerais e do Brasil à época.