Você conhece alguém que vive dentro de um estojo? Talvez conheça. Belikov conhecia, ou melhor, era ele mesmo. Um homem que andava sempre de galochas, guarda-chuva fechado, gola levantada, até nos dias de sol.
Um homem que temia o novo, evitava o inesperado e vivia escondido atrás de regras, normas e dicionários. Nada de conversas altas, risos espontâneos ou sentimentos à mostra. Tudo fora do estojo era perigoso. Anton Tchekhov escreveu esse conto no fim do século XIX, mas basta olhar ao redor ou até para dentro de si e talvez você encontre um Belikov por perto.
Gente que se protege tanto do mundo que acaba deixando de vivê-lo, que prefere a rigidez da rotina à leveza do encontro, que escolhe o medo quando pode escolher o afeto. Mas a vida, ah, a vida escapa dos estojos.
O homem no estojo é um alerta discreto, mas profundo, um chamado a coragem de viver, mesmo quando o mundo assusta. Porque fora do estojo também tem céu, tem risco, tem erro, tem beleza e tem muita coisa para viver.